Papa Francisco
Paisagens
Pedras angulares A teologia visual da belezaQuem somosIgreja e CulturaPastoral da Cultura em movimentoImpressão digitalVemos, ouvimos e lemosPerspetivasConcílio Vaticano II - 50 anosPapa FranciscoBrevesAgenda VídeosLigaçõesArquivo

Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude: quinze temas-chave

A Jornada Mundial da Juventude, que terminou este domingo no Rio de Janeiro, foi marcada por cerca de 20 intervenções do papa, entre homilias, discursos e outras alocuções.

Francisco aproveitou o encontro para lançar mensagens aos jovens, mas também à América Latina e ao mundo, retomando alguns dos temas que lhe são queridos.

 

Bater à porta

O papa empregou esta expressão várias vezes, em contextos diferentes, como que para sublinhar a sua vontade de se encontrar autenticamente com os brasileiros, em vez de fazer uma simples visita enquanto personalidade. Talvez constitua um sinal de que deseja exercer o seu ministério de forma próxima e acessível.

«Aprendi que para ter acesso ao Povo Brasileiro, é preciso ingressar pelo portal do seu imenso coração; por isso permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta. Peço licença para entrar e transcorrer esta semana com vocês. Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo!» (Discurso na cerimónia de boas-vindas)

«Desde o início, quando planeava a minha visita ao Brasil, o meu desejo era poder visitar todos os bairros deste País. Queria bater em cada porta, dizer “bom dia”, pedir um copo de água fresca, beber um "cafezinho" - não um copo de cachaça! -, falar como a amigos de casa, ouvir o coração de cada um, dos pais, dos filhos, dos avós... Mas o Brasil é tão grande! Não é possível bater em todas as portas!» (Visita à comunidade da Varginha)

 

Sair

Não ficar dentro da Igreja: eis um dos temas que Francisco mais insistentemente referiu. Recordam-se aqui as palavras que proferiu em março, durante as reuniões que, no Vaticano, antecederam o conclave para a eleição do sucessor de Bento XVI. Realçou, então, a importância de os cristãos irem ao encontro das «periferias existenciais», onde a Igreja não está suficientemente presente.

«Não podemos ficar enclausurados na paróquia, na nossa comunidade, na nossa instituição paroquial ou na nossa instituição diocesana, quanto tantas pessoas esperam o Evangelho. (...) Não é um simples abrir a porta para que venham, para acolher, mas sair pela porta para buscar e encontrar. Encorajemos os jovens a sair. Pensemos decididamente na pastoral desde a periferia, começando pelos que estão mais longe, os que habitualmente não frequentam a paróquia. Eles são os convidados VIP.» (Homilia na missa com bispos, padres, religiosos e seminaristas)

 

Missionários

Foi o tema da 28.ª Jornada Mundial da Juventude: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações». Foi um dos apelos que os jovens terão retido melhor, tantas vezes foi repetido.

«Deus quer que sejamos missionários (...) onde Ele nos colocou. Ajudemos os jovens a darem-se conta de que serem discípulos missionários é uma consequência de serem batizados, é parte essencial do ser cristão, e que o primeiro lugar que se há de evangelizar é a própria casa, o ambiente de estudo ou de trabalho, a família e os amigos.» (Homilia na missa com bispos, padres, religiosos e seminaristas)

«Na Igreja de Jesus, nós somos as pedras vivas, e Jesus pede-nos que construamos a sua Igreja; cada um de nós é uma pedra viva, é um pedacinho da construção e, quando vem a chuva, se faltar aquele pedacinho, temos infiltrações e entra a água na casa. E não construam uma capelinha, onde cabe somente um grupinho de pessoas. Jesus pede-nos que a sua Igreja viva seja tão grande que possa acolher toda a humanidade, que seja casa para todos! (Vigília de oração)

 

Juntos

Às vítimas da toxicodependência, aos habitantes das favelas, aos jovens e às suas famílias, o papa repetiu diversas vezes: «Não estais sozinhos». Um refrão de esperança que se tornou mais veemente na homilia da missa final, precisamente quando os participantes foram enviados em missão.

«Jesus não disse: "Vai", mas "Ide": somos enviados em grupo. Queridos jovens, sintam a companhia de toda a Igreja e também a comunhão dos Santos nesta missão. Quando enfrentamos juntos os desafios, então somos fortes, descobrimos recursos que não sabíamos que tínhamos. Jesus não chamou os Apóstolos para que vivessem isolados; chamou-lhes para que formassem um grupo, uma comunidade.» (Homilia na missa final)

 

Cultura da exclusão

No avião que o transportou para o Brasil, os jornalistas que acompanharam Francisco notaram o recurso a esta expressão, regularmente retomada. A proteção e integração dos mais frágeis, a começar pelos jovens e idosos, é um dos temas favoritos do papa.

«Em muitos ambientes, e em geral neste humanismo economicista que se nos impôs no mundo, abriu-se caminho a uma cultura da exclusão, uma "cultura do descartável". Não há lugar para o idoso nem para o filho indesejado; não há tempo para se deter com aquele pobre na rua. Às vezes parece que, para alguns, as relações humanas estão reguladas por dois "dogmas": eficiência e pragmatismo. Queridos bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas, e vós, seminaristas que se preparam para o ministério, tenham a coragem de ir a contracorrente dessa cultura.» (Homilia na missa com bispos, padres, religiosos e seminaristas)

 

Justiça social

Depois das grandes manifestações que marcaram o Brasil nas últimas semanas, e que prosseguiram durante a Jornada, Francisco não podia deixar de evocar as aspirações das populações à dignidade e à justiça. Um tema que, mais uma vez, lhe é familiar, pelo menos desde o tempo em que foi arcebispo de Buenos Aires.

«O futuro exige também uma visão humanista da economia e uma política que realize cada vez mais e melhor a participação das pessoas, evitando elitismos e erradicando a pobreza. Que ninguém fique privado do necessário, e que a todos sejam asseguradas dignidade, fraternidade e solidariedade: esta é a estrada proposta.» (Encontro com a classe dirigente do Brasil)

 

Protagonistas do futuro

O papa insistiu, especialmente com bispos e padres, na importância de formar e acompanhar os jovens, mas não hesitou em apelar a estes que não se deixem levar pela cultura ambiente ou pelas estruturas sociais. É a eles que cabe fundar os alicerces de um mundo e de uma Igreja melhores.

«Jovens, por favor, não se ponham na "cauda" da história. Sejam protagonistas. Joguem ao ataque! Chutem para diante, construam um mundo melhor, um mundo de irmãos, um mundo de justiça, de amor, de paz, de fraternidade, de solidariedade. (...) Continuem a vencer a apatia, dando uma resposta cristã às inquietações sociais e políticas que estão surgindo em várias partes do mundo. (...) Queridos jovens, por favor, não "olhem da varanda" a vida, entrem nela. Jesus não ficou na varanda, mergulhou… "Não olhem da varanda" a vida, mergulhem nela, como fez Jesus.» (Vigília de oração)

 

Esperança

Ao apelar à juventude para que se comprometa, o papa não ignora o grande risco do desencorajamento e da renúncia, pouco a pouco, ao ideal fixado no ponto de partida, face aos fracassos e deceções que os cristãos podem encontrar no mundo, mas também neles próprios. Contra isso, só a esperança cristã pode, aos seus olhos, ser um remédio.

«Vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício. Também para vocês e para todas as pessoas repito: nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mudar. Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostumarem ao mal, mas a vencê-lo com o bem. A Igreja está ao lado de vocês, trazendo-lhes o bem precioso da fé, de Jesus Cristo, que veio "para que todos tenham vida, e vida em abundância"» (Visita à comunidade da Varginha)

 

Diálogo

Chegou ao Brasil pedindo «a gentileza da atenção e, se possível, a empatia necessária para estabelecer um diálogo entre amigos». "Diálogo" foi uma palavra que não deixou de proferir nos seus discursos, até ao ponto de pedir uma «cultura do encontro» e uma «humildade social» para os dirigentes.

«Quando os líderes dos diferentes setores me pedem um conselho, a minha resposta é sempre é a mesma: diálogo, diálogo, diálogo. A única maneira para uma pessoa, uma família, uma sociedade crescer, a única maneira para fazer avançar a vida dos povos é a cultura do encontro; uma cultura segundo a qual todos têm algo de bom para dar, e todos podem receber em troca algo de bom. O outro tem sempre algo para nos dar, desde que saibamos nos aproximar dele com uma atitude aberta e disponível, sem preconceitos. Esta atitude aberta, disponível e sem preconceitos, eu a definiria como «humildade social» que é o que favorece o diálogo.  Só assim pode crescer o bom entendimento entre as culturas e as religiões, a estima de umas pelas outras livre de suposições gratuitas e num clima de respeito pelos direitos de cada uma. Hoje, ou se aposta no diálogo, na cultura do encontro, ou todos perdemos. Todos perdemos… Passa por aqui o caminho fecundo.» (Encontro com a classe dirigente do Brasil)

 

Solidariedade

Por duas vezes, Francisco tirou os olhos do papel para acrescentar, após a palavra "solidariedade": «É como um palavrão, hoje!». Verdadeiro acolhimento do outro, espaço que se cria entre duas pessoas, para além de uma simples "ajuda" verticalmente estabelecida. E para ilustrar esta palavra, não hesitou em apresentar os pobres como modelos.

«O povo brasileiro, sobretudo as pessoas mais simples, pode dar para o mundo uma grande lição de solidariedade, que é uma palavra – esta palavra solidariedade – é uma palavra frequentemente esquecida ou silenciada, porque é incómoda. Quase parece um palavrão… solidariedade! Queria lançar um apelo a todos os que possuem mais recursos, às autoridades públicas e a todas as pessoas de boa vontade comprometidas com a justiça social: Não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário! Ninguém pode permanecer insensível às desigualdades que ainda existem no mundo!» (Visita à comunidade da Varginha)

 

Revolução

Para Francisco, o cristão é o verdadeiro revolucionário, não apenas porque vai em contramão relativamente ao espírito do mundo que o rodeia, mas porque a sua fé o liberta de tudo o que o pode tornar dependente e escravizá-lo. Este apelo à autêntica libertação foi vincado no Rio de Janeiro.

«O ter, o dinheiro, o poder, podem oferecer um momento de embriaguez, a ilusão de ser feliz, mas, no final, dominam-nos e levam-nos a querer ter cada vez mais, a nunca estar satisfeitos. E acabamos empanturrados mas não alimentados, e é muito triste ver uma juventude empanturrada mas frágil. A juventude tem de ser forte, alimentar-se da sua fé, e não empanturrar-se de outras coisas. (...) Queridos amigos, a fé é revolucionária, e eu pergunto-vos, hoje: Estás disposto, estás disposta a entrar nesta onda de revolução da fé? Só entrando a tua vida jovem terá sentido, e assim será fecunda. (Homilia na missa de acolhimento)

 

Maria

Muito ligado à Virgem, Francisco não perdeu uma oportunidade de lhe confiar as pessoas que encontrou nesta viagem, especialmente em Nossa Senhora Aparecida, santuário mariano emblemático do Brasil e da América Latina. Maria foi também apresentada como modelo de missionária e de serviço.

«Cada vez que rezamos o Angelus, recordamos o acontecimento que mudou para sempre a história dos homens. Quando o anjo Gabriel anunciou a Maria que se tornaria a Mãe de Jesus, do Salvador, Ela - mesmo sem compreender todo o significado daquele chamado - confiou em Deus (...). Após ter recebido a graça de ser a Mãe do Verbo encarnado, não guardou para si aquele presente; sentiu-se responsável e partiu, saiu da sua casa e foi, apressadamente, visitar a sua parente Isabel que precisava de ajuda; cumpriu um gesto de amor, de caridade e de serviço concreto, levando Jesus que trazia no ventre. E apressou-se a fazer este gesto! (Introdução ao Angelus, a seguir à missa final)

 

Alegria

A vida cristã, o serviço aos pobres, a missão, tudo isso não é nada se os crentes não são capazes de testemunhar concretamente, no quotidiano, sobre o seu próprio rosto, a fé e a esperança que os anima. Habituado a usar expressões com impacto («por vezes, vemos cristãos melancólicos que parecem "pimenta com vinagre"), Francisco acrescentou mais algumas pedras à sua pastoral da alegria.

«O cristão é alegre, nunca está triste. Deus acompanha-nos. Temos uma Mãe que sempre intercede pela vida dos seus filhos, por nós, como a rainha Ester na primeira leitura (cf. Est 5, 3). Jesus mostrou-nos que a face de Deus é a de um Pai que nos ama. O pecado e a morte foram derrotados. O cristão não pode ser pessimista! Não pode ter uma cara de quem parece num constante estado de luto. Se estivermos verdadeiramente enamorados de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos ama, o nosso coração se “incendiará” de tal alegria que contagiará quem estiver ao nosso lado.» (Homilia no santuário de Aparecida

«Vocês sabem que na vida de um bispo já muitos problemas que pedem para ser solucionados. E com estes problemas e dificuldades, a fé do bispo pode entristecer-se. Que feio é um bispo triste. Que feio que é. Para que a minha fé não seja triste, vim aqui para contagiar-me com o vosso entusiasmo.» (Homilia na missa de acolhimento)

 

Serviço

Ele que é frequentemente apelidado de «papa dos pobres», ele que escolheu o nome de Francisco e que não hesitou, alguns dias depois da eleição, a celebrar a Quinta-feira Santa numa prisão e lavar os pés a jovens detidos, aproveitou a viagem ao Brasil para transmitir uma mensagem social, mas também convocar os jovens a colocarem-se ao serviço uns dos outros.

«Para anunciar Jesus, Paulo fez-se "escravo de todos". Evangelizar significa testemunhar pessoalmente o amor de Deus, significa superar os nossos egoísmos, significa servir, inclinando-nos para lavar os pés dos nossos irmãos, tal como fez Jesus.» (Homilia na missa final)

 

Cruz

Após o início do seu pontificado, e mesmo antes, como arcebispo de Buenos Aires, o papa Francisco insiste regularmente na importância da cruz na vida cristã. Lembra muitas vezes que não há cristão autêntico sem ela. Na Jornada, deu à Paixão de Cristo uma dimensão muito concreta na vida dos jovens que o ouviam.

«Muitos rostos acompanharam Jesus no caminho para o Calvário: Pilatos, o Cireneu, Maria, as mulheres... Eu pergunto-vos hoje: Vós, como quem quereis ser? Quereis ser como Pilatos, que não teve a coragem de ir contracorrente para salvar a vida de Jesus e lavou as mãos? Dizei-me: Vós sois dos que lavam as mãos, fazem-se distraídos e olham para o outro lado, ou sois como o Cireneu, que ajuda Jesus a levar aquele madeiro pesado, como Maria e as outras mulheres, que não têm medo de acompanhar Jesus até ao fim, com amor, com ternura. E vós, com qual deles quereis ser? Como Pilatos, como o Cireneu, como Maria? Jesus olha para ti agora e diz-se: queres ajudar-me a levar a cruz? Irmão e irmã, com toda a tua força de jovem, que lhe respondes?» (Via-sacra)

 

Aymeric Christensen
In La Vie
Com SNPC
03.08.13

Redes sociais, e-mail, imprimir

FotoREUTERS/Osservatore Romano

 

Ligações e contactos

 

 

Página anteriorTopo da página

 


 

Receba por e-mail as novidades do site da Pastoral da Cultura


Siga-nos no Facebook

 


 

 


 

 

Secções do site


 

Procurar e encontrar


 

 

Página anteriorTopo da página