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Jornada Nacional da Pastoral da Cultura 2013

Juventude, redes sociais e espiritualidade

Um grande desafio diz respeito à experiência da interioridade que o homem de hoje, especialmente se jovem, pode realizar. O homem que tem alguma habituação à experiência da internet parece, com efeito, estar mais pronto para a interação do que para a interiorização. E, geralmente, «interioridade» é sinónimo de profundidade, enquanto «interatividade» é muitas vezes sinónimo de superficialidade. Estaremos condenados à superficialidade? É possível conjugar profundidade e interatividade? O desafio é de grande alcance.

É preciso, certamente, salvaguardar espaços que permitam à interioridade desenvolver-se sem interferências ou "rumores" que distraiam o homem das suas perguntas radicais e da sua necessidade de silêncio e meditação. Todavia, podemos constatar que o homem de hoje, habituado à interatividade, interioriza a experiência se tiver possibilidade de entretecer com ela uma relação viva, e não puramente passiva, recetiva. O homem de hoje considera válidas as experiências nas quais é pedida a sua «participação» e o seu envolvimento.

Em geral, se o objeto de conhecimento não é traduzido em experiência de ação por parte do sujeito que o conhece, permanece estranho, não significativo e torna-se banal, estranho. Tinha razão Gianbattista Vico quando formulava a linha orientadora da "ciência nova"; verum ipsum factum: «a verdade está no próprio fazer». (...)

Na web [rede], entendida como lugar antropológico, não há «profundidade» para explorar mas «nós» para navegar e ligar entre eles de maneira densa. O que se mostra «superficial» é apenas o avançar na forma, provavelmente inesperado e imprevisível, de um nó para o outro. A espiritualidade do homem contemporâneo é muito sensível a esta experiência.

O escritor Alessandro Baricco descreveu esta mutação em ato na cultura do mundo ocidental num ensaio com o significativo titulo I barbari ("Os bárbaros"). A imagem romântica do homem culto, debruçado sobre um livro na penumbra de uma sala com a janela fechada, é substituída pela do surfista que navega na crista da onda em busca do sentido existente à superfície.

Assim: a superfície no lugar da profundidade, a velocidade no lugar da reflexão, a sequência no lugar da análise, o surf no lugar do aprofundamento, a comunicação no lugar da expressão, as tarefas múltiplas no lugar da especialização. Qual será, então, a espiritualidade dos bárbaros, a espiritualidade desses nativos digitais cuja forma de raciocinar está em mutação por habitarem no ambiente digital? (...)

O que distingue o homem da máquina ordenadora [computador] é precisamente a desordem. O que a máquina não produz é a desordem. A máquina ordena. Por isso é preciso não lamentar demasiadamente a desordem porque é nela que reside a exceção lógica do homem sobre a máquina.

Efetivamente, o nativo digital espiritual talvez seja uma espécie de hacker [pirata informático], que vive a espiritualidade como hacking interior, isto é, algo que destrói o sistema e lhe muda as regras, as visões habituais, as lógicas automáticas, colocando a pergunta sobre o sentido e abrindo o sistema operativo interior fechado, e muitas vezes considerado como autossuficiente em relação à transcendência.

 

Antonio Spadaro, SJ
Assembleia plenária do Pontifício Conselho para a Cultura, Roma, fevereiro 2013
In Pontifício Conselho para a Cultura
© SNPC (trad.) | 05.06.13

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