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Fé e cultura

Intervenção de Bento XVI nos 25 anos do Conselho Pontifício para a Cultura

(...) O Concílio Ecuménico Vaticano II prestou grande atenção à cultura, e a Constituição pastoral Gaudium et spes dedica-lhe um capítulo especial (cf. nn. 53-62). Os Padres conciliares preocuparam-se em indicar a perspetiva segundo a qual a Igreja considera e enfrenta a promoção da cultura, visando esta tarefa como um dos problemas "particularmente urgentes que atingem de modo muito especial o género humano" (cf. ibid., n. 46). Relacionando-se com o mundo da cultura, a Igreja insere sempre o homem no centro, quer como artífice da atividade cultural, quer como seu último destinatário. O Servo de Deus Paulo VI apreciava em grande medida o diálogo da Igreja com a cultura, assumindo-o pessoalmente durante os anos do seu Pontificado. Na sua esteira colocou-se também o Servo de Deus João Paulo II, que participou na Assembleia conciliar e ofereceu uma sua contribuição específica para a Constituição Gaudium et spes. No dia 2 de junho de 1980, no seu memorável discurso à UNESCO, ele testemunhou pessoalmente quanto gostaria de se encontrar com o homem no terreno da cultura, para lhe transmitir a Mensagem evangélica.

Dois anos mais tarde, instituiu o Pontifício Conselho para a Cultura, destinado a dar um renovado impulso ao compromisso da Igreja, para levar o Evangelho a encontrar a pluralidade das culturas nas várias regiões do mundo (cf. Carta ao Cardeal Casaroli, em Insegnamenti di Giovanni Paolo II, V, 2 [1982], pág.1779).

Ao instituir este novo Conselho, o meu venerado Predecessor recordou como o mesmo devia buscar as suas finalidades, dialogando com todos, sem distinção de cultura e de religião, em vista de procurar conjuntamente "uma comunicação cultural com todos os homens de boa vontade" (Ibid., pp. 1779-1780). Nos últimos vinte e cinco anos, este aspeto do serviço desempenhado pelo Pontifício Conselho para a Cultura viu confirmada toda a sua importância, uma vez que o mundo se tornou ainda mais interdependente, graças ao formidável desenvolvimento dos instrumentos de comunicação e ao consequente incremento da rede de relações sociais. Portanto, tornou-se ainda mais urgente para a Igreja promover o desenvolvimento cultural, visando a qualidade humana e espiritual das mensagens e dos conteúdos, dado que hoje em dia também a cultura ressente inevitavelmente os processos de globalização que, se não forem acompanhados constantemente por um discernimento atento, podem voltar-se contra o homem, terminando por empobrecê-lo, em vez de enriquecê-lo. E como são grandes os desafios, com que a evangelização deve confrontar-se neste âmbito!

Portanto, à distância de vinte e cinco anos da criação do Pontifício Conselho para a Cultura, é oportuno refletir sobre as razões e as finalidades que motivaram o seu nascimento no contexto sociocultural desta nossa época. Com esta finalidade, o Pontifício Conselho desejou organizar um Congresso de estudos, por um lado para meditar sobre a relação que existe entre evangelização e cultura e, por outro, para considerar esta mesma relação como hoje se apresenta na Ásia, na América e na África. Como não encontrar um especial motivo de satisfação, ao ver que as três relações de cariz "continental" foram confiadas a três Cardeais, respetivamente asiático, latino-americano e africano? Não se trata porventura de uma confirmação eloquente do modo como a Igreja Católica soube caminhar, impelida pelo "Vento" do Pentecostes, como comunidade capaz de dialogar com toda a família dos povos, aliás, de resplandecer no meio dela como "sinal profético de unidade e de paz" (Missal Romano, Oração Eucarística V-D-)?

Estimados irmãos e irmãs, a história da Igreja é também, inseparavelmente, história da cultura e da arte. Obras como a Summa theologiae, de S. Tomás de Aquino, a Divina Comédia, a Catedral de Chartres, a Capela Sistina ou as Cantatas de Johann Sebastian Bach constituem, à sua maneira, sínteses inigualáveis entre fé cristã e expressão humana. Mas se, por assim dizer, elas representam os píncaros desta síntese entre fé e cultura, o seu encontro realiza-se quotidianamente na vida e no trabalho de todos os batizados, naquela obra de arte escondida, que é a história de amor de cada indivíduo com o Deus vivo e com os irmãos, na alegria e na dificuldade de seguir Jesus Cristo no quotidiano da existência.

Hoje, mais do que nunca, a abertura recíproca entre as culturas é um terreno privilegiado para o diálogo entre os homens comprometidos na busca de um humanismo autêntico, para além das divergências que os separam. Também no campo cultural, o Cristianismo tem para oferecer a todos a mais poderosa força de renovação e de elevação, ou seja, o Amor de Deus que se faz amor humano. Precisamente na Carta de instituição do Pontifício Conselho para a Cultura, o Papa João Paulo II escrevia: "O amor é como uma grande força oculta no coração das culturas, para as solicitar a superarem a sua finitude irremediável, abrindo-se Àquele que é a Fonte e o Termo delas e para lhes dar, quando se abrem à sua graça, um enriquecimento de plenitude" (Ed. port. de L'Osservatore Romano de 30 de maio de 1982, pág. 3, em Insegnamenti di Giovanni Paolo II, V, 2 [1982], pág. 1778). Graças ao serviço prestado de modo particular pelo vosso Pontifício Conselho, possa a Santa Sé continuar a promover em toda a Igreja aquela cultura evangélica que é fermento, sal e luz do Reino no seio da humanidade. (...)

 

Bento XVI
Discurso ao Congresso de Estudos no 25.º Aniversário da Instituição do Pontifício Conselho para a Cultura
15.06.2007
23.04.09

Bento XVI
































































 

 

 

 

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