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Arquitetura

Siza Vieira: "Mas quem lhe disse que sou ateu?"

Em entrevista à revista «Pública» («Público»), Siza Vieira fala da vocação religiosa da irmã e relembra o projeto da Igreja de Marco de Canaveses.

Que relação tinham em casa com a religião?
A minha mãe e as minhas tias eram quase de missa diária. E no entanto, quando a minha irmã decidiu isso e o anunciou à família, caiu Troia! Falaram-me para a convencer a não ir para freira!

Tinha ascendente sobre ela?
Tínhamos uma relação muito boa. "Mas como é que vou fazer uma coisa dessas? Isso é um problema dela, se quer ir - e quer." Cá por dentro pensava: "Como é que estas pessoas tão religiosas não aceitam que ela vá?" Alguém que ia para freira era como uma pessoa que ia para longe, que ia desaparecer.

Na sua arquitetura podemos encontrar sinais de espiritualidade e mesmo religiosidade? Há uma relação entre isso e essa casa onde as mulheres eram praticamente de missa diária?
Quando fiz a igreja no Marco de Canaveses, foi muito difícil ser-me entregue esse trabalho. A hierarquia dizia que eu era ateu e que não podia fazer uma igreja. Fez-se porque o padre Nuno Higino se empenhou nisso a fundo. Julgo que ter-se sabido, a dada altura, que tenho uma irmã freira deve ter ajudado...

Não importava nada a sua consagração internacional. Importou a circunstância de ter uma irmã freira...
[Gargalhada] Quando foi a inauguração, lembro-me de jornalistas me perguntarem: "Você é um homem ateu e faz uma igreja?" "Mas quem lhe disse que sou ateu? Nunca disse a ninguém se sou se não sou. Nem digo!" E agora digo-lhe o mesmo a si! Bom, há qualquer coisa que se pode chamar de religiosidade em toda a arquitetura. Religiosidade no sentido de atmosfera, conforto, ligação com tudo. A arquitetura tem isso, independentemente de ser uma igreja. Não esquecer que uma casa é um abrigo, um lugar de intimidade e recolhimento. A uma igreja chama-se a casa de Deus. É inerente à arquitetura essa componente de silêncio, de proteção, de comunidade.

 

Álvaro Siza Vieira
Entrevista conduzida por Anabela Mota Ribeiro
In Público, 05.04.2009
05.04.09

Foto
Azulejos de Siza Vieira
Área da Reconciliação da Igreja
da Santíssima Trindade, Fátima

 

 

 

 

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