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Fé e cultura

Átrio dos Gentios: presidente do Pontifício Conselho para a Cultura vem a Portugal falar de crise mas também de esperança

«A crise, o mal, a dor, a morte e, por outro lado, a grandeza da criatura humana na sua relação com o transcendente, com o semelhante e com a matéria» constituem alguns dos temas que o presidente do Pontifício Conselho para a Cultura vai abordar a 16 de novembro, em Guimarães, no primeiro dia do Átrio dos Gentios em Portugal.

O cardeal italiano Gianfranco Ravasi revelou em entrevista à Agência Ecclesia que tenciona recorrer a textos bíblicos sobre a «relação» e a «corporeidade», a par da «categoria de “limite”, da finitude do ser humano».

Na conversa - "dueto", como gosta de dizer - que vai ter com o neurocirurgião português João Lobo Antunes, o biblista pretende também centrar-se na «antropologia» e na «referência ao transcendente», introduzindo o tema da «esperança».

«Não conheço Portugal, apesar de o ter visitado algumas vezes, mas penso que vive a mesma experiência difícil de Espanha e Itália, pelo que há o risco de que as pessoas se contentem apenas com as “pequenas coisas”», apontou.

O responsável considera que realçar a importância dos «grandes valores» é uma forma de «sacudir um pouco as consciências e dizer: "Não se resolvem as coisas pequenas sem enfrentar as grandes"».

«Temos de criar uma atmosfera que não se limite às questões económicas nem financeiras, porque os seus problemas nasceram, em boa parte, quando se esqueceram as questões éticas, morais», que são «algo precioso» na situação de crise económica, acrescentou.

No encontro de Braga e Guimarães, dedicado ao tema "O valor da vida", não se pretende «apenas de falar da bioética», como vai acontecer em alguns dos debates que provavelmente colocarão questões sobre células estaminais, aborto, eutanásia, «mas de introduzir elementos que são a base para justificar o discurso da bioética».

Gianfranco Ravasi lembrou que «a caraterística fundamental» do Átrio dos Gentios, plataforma instituída pela Igreja Católica para promover o encontro entre crentes e não crentes, reside no «diálogo», termo que o Pontifício Conselho para a Cultura usa «como símbolo».

«Não é simplesmente para procurar um mínimo denominador comum. É antes a possibilidade de dizer com clareza, de forma elevada e também de forma popular, qual é a identidade de crentes e não crentes sobre os temas fundamentais da vida e, se quisermos, do mistério», referiu, acrescentando que «a escuta é fundamental» perante dois discursos que se cruzam.

O prelado, que presidiu à peregrinação de 12 e 13 de maio em Fátima, considera que «não se pode fazer um Átrio dos Gentios só com crentes ou não crentes» e que a iniciativa permite «celebrar, de forma nova, o Concílio Vaticano II», que começou há 50 anos.

«Hoje, além das dioceses, há organizações laicas que se organizam e nos convidam, como aconteceu na Cidade do México, a que irei em maio [2013], onde um professor, um filósofo não crente iniciou este percurso», observou.

O Átrio dos Gentios baseia-se no anúncio das convicções cristãs, salientou o cardeal, que mencionou o livro bíblico dos Atos dos Apóstolos para ilustrar as raízes da iniciativa desencadeada pelo papa Bento XVI.

«Dou como exemplo a passagem de São Paulo pelo areópago [Atenas]: ele está num contexto cultural completamente diferente e adota uma linguagem que é compreensível para os seus interlocutores, mostra conhecer a sua cultura e depois apresenta a sua identidade cristã. Isto não quer dizer que os convença, até porque foi rejeitado. Alguns, no entanto, converteram-se.»

O Átrio dos Gentios evolui agora para encontros fixados em categorias particulares: «Fizemos, por exemplo, Átrios para crianças de famílias crentes e não crentes que foram um grande sucesso. Também já decorreram sessões para diplomatas e embaixadores e temos a intenção de promover um Átrio dos Gentios para jornalistas, para músicos, para o Cinema. Este será o futuro, para além das cidades».

«O esforço é continuar, de outras formas, a experiência mais importante, e também em Portugal estamos já a pensar nesta continuidade. É uma condição indispensável», adiantou.

Entre os momentos mais marcantes do Átrio dos Gentios, que passou por cidades como Paris, Barcelona e Tirana, Gianfranco Ravasi recorda o encontro de Assis, em Itália, o mais recente, onde manteve uma conversa pública com o presidente da República, Giorgio Napolitano, «que não é crente mas é um homem muito nobre do ponto de vista moral e mesmo espiritual».

«Outro momento de sucesso, inesperado, foi em Estocolmo, na Academia do Prémio Nobel e depois num centro juvenil, o maior da Europa. Num ambiente fortemente laico, quase anticristão, diria, houve um interesse de tal ordem que fizemos 3 horas e 40 minutos de intervenções, sem intervalo, com transmissão televisiva.»

 

Rui Jorge Martins
Qualidade do autor
In Citação, data
© SNPC | 06.11.12

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Foto
Cardeal Gianfranco Ravasi

 

 

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