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Patriarca de Lisboa vai ser cardeal no próximo consistório

Imagem D. Manuel Clemente | Foto: António Monteiro/SNPC

Patriarca de Lisboa vai ser cardeal no próximo consistório

D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa, vai ser criado cardeal pelo papa Francisco no próximo consistório, que decorre a 14 e 15 de fevereiro no Vaticano, anuncia hoje a Sala de Imprensa da Santa Sé.

O prelado, Prémio Pessoa 2009, presidiu até 2011 à Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, departamento responsável pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, tendo acompanhado os primeiros passos e a consolidação deste organismo.

Em 2013, o semanário "Expresso" escolheu-o como uma das 100 personalidades mais influentes de Portugal: «D. Manuel Clemente tem perfil, talento e diplomacia de sobra para lidar com os desafios que lhe surgirem pela frente. Quase a completar 65 anos, está longe da idade da reforma. A sua voz dentro da Igreja e na sociedade é ouvida com atenção, o seu perfil de intelectual e a abertura para o diálogo valeram-lhe várias distinções muito para além dos muros da Igreja».

De acordo com a tradição, o novo patriarca de Lisboa era criado cardeal pelo papa no consistório que decorresse a seguir à sua nomeação, o que não veio a acontecer com D. Manuel Clemente.

À data do primeiro consistório convocado pelo papa Francisco, 22 de fevereiro de 2014, ainda vivia o cardeal D. José Policarpo, então patriarca emérito de Lisboa e eleitor no Colégio Cardinalício por ter menos de 80 anos.

Os nomes dos novos cardeais, entre os quais se encontra, pela primeira vez, um prelado de Cabo Verde, o bispo da diocese de Santiago, mostram que o papa não se ateve à tradição histórica que ligava "automaticamente" determinadas dioceses ao cardinalato, comentou hoje o diretor da Sala de Imprensa, padre Federico Lombardi.

D. Manuel Clemente foi ordenado padre no Patriarcado de Lisboa. Nomeado bispo auxiliar da diocese em 1999, recebe a ordenação episcopal a 22 de janeiro do ano seguinte, dia em que a Igreja evoca S. Vicente, padroeiro principal do patriarcado lisbonense.

A 22 de fevereiro de 2007 é nomeado bispo do Porto; regressa seis anos depois a Lisboa para suceder a D. José Policarpo, patriarca desde 1998.

O patriarca de Lisboa é, por inerência, o magno chanceler da Universidade Católica Portuguesa, instituição a que esteve ligado desde que em meados da década de 70 concluiu o curso de Teologia e se tornou professor da respetiva faculdade em disciplinas ligadas à História da Igreja.

O consistório, reunião de cardeais com o Papa destinada a tratar de assuntos de especial importância para a Igreja, pode ser ordinário ou extraordinário.

A primeira modalidade (como sucederá em fevereiro) ocorre quando se celebram atos solenes, enquanto que o segundo caso é reservado ao colégio cardinalício.

Nesta página apresentamos os principais dados biográficos de D. Manuel Clemente, atual presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, seguidos de alguns dos textos e notícias sobre o novo patriarca publicadas nos últimos anos no nosso site.

 

Biografia

Nascimento: 16.7.1948 (66 anos)
Local de nascimento: Freguesia de S. Pedro e S. Tiago, concelho de Torres Vedras
Ordenação presbiteral: 29.6.1979 (ordenado com 30 anos, padre há 35)
Nomeação episcopal (S. João Paulo II): 6.11.1999, para auxiliar do Patriarcado de Lisboa
Ordenação episcopal: 22.1.2000 (ordenado com 51 anos, bispo há 14)
Nomeação para bispo do Porto (Bento XVI): 22.2.2007
Tomada de posse de bispo do Porto: 24.3.2007
Nomeação para patriarca de Lisboa (Francisco): 18.5.2013
Tomada de posse de patriarca de Lisboa: 6.7.2013

Formação e funções académicas
Licenciado em História pela Faculdade de Letras de Lisboa
Ingressou no Seminário Maior de Cristo Rei (Olivais) em 1973
Licenciou-se em Teologia pela Universidade Católica Portuguesa em 1979.
Doutorou-se em Teologia Histórica em 1992, com a tese intitulada "Nas origens do apostolado contemporâneo em Portugal. A 'Sociedade Católica' (1843-1853)"
Lecionou História da Igreja na Universidade Católica Portuguesa desde 1975

Funções e cargos eclesiais
Coadjutor das paróquias de Torres Vedras e Runa: 1980
Membro da Equipa Formadora do Seminário Maior dos Olivais: 1980 a 1989
Vice-Reitor do Seminário Maior dos Olivais: 1989 a 1997
Reitor do Seminário Maior dos Olivais: 1997
Membro do Cabido da Sé Patriarcal: 1989
Diretor do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa: 2001-2007
Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais: 2005 a 2011
Vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa: 2011
Membro do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais: 2011
Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa: 2013

Prémios e distinções
Grã-Cruz da Ordem de Cristo
Prémio Pessoa 2009
Medalhas dos municípios do Porto, Vila Nova de Gaia, Marco de Canaveses, Valongo e Gondomar
Doutoramento Honoris Causa pela Universidade Lusófona

 

Publicações (alguns livros e artigos)

O tempo pede uma Nova Evangelização, Paulinas, 2013
Igreja e Sociedade Portuguesa do Liberalismo à República. Porto, Assírio & Alvim, 2012
É este o tempo - A experiência da Missão. Lisboa, Pedra Angular, 2011
Diálogo em Tempo de Escombros - Uma Conversa sobre Portugal, o Mundo e a Igreja Católica. Lisboa, Pedra da Lua, 2010 (co-autoria José Manuel Fernandes)
1810 - 1910 - 2010; Datas e Desafios. Lisboa, Assírio & Alvim, 2009
Um Só Propósito. Homilias e Escritos Pastorais. Lisboa, Pedra Angular, 2009
Portugal e os Portugueses. Lisboa, Assírio & Alvim, 2008
Os Papas do séc. XX. Lisboa, Paulus, 2007
Igreja e Sociedade Portuguesa do Liberalismo à República. Lisboa, Grifo, 2002
A Igreja no tempo. Lisboa, Grifo, 2000
Espírito e espírito na história ocidental - os despistes da esperança. In "As razões da nossa esperança. A caminho do terceiro milénio"
. Lisboa, Rei dos Livros, 1998
Das prelaturas políticas às prelaturas pastorais: o caso de Pinhel. In "Lusitania Sacra". Segunda série. Lisboa, 8-9, 1996-1997
Milenarismos. In "Creio na vida eterna". Lisboa: Rei dos livros, 1996
Sínodos em Portugal: um esboço histórico. In "Estudos Teológicos". Coímbra. 1, 1996
As paróquias de Lisboa em tempo de liberalismo. In "Didaskalia". Lisboa, 25, 1995
Os Seminários de Lisboa. In "Novellae Olivarum". Nova série. Lisboa, 8, 1994
Universidade Católica Portuguesa: uma realização de longas expectativas. In "Lusitania Sacra", Segunda série. Lisboa, 6, 1994
A sociedade portuguesa à data da publicação da Rerum Novarum: o sentimento católico. In "Lusitania Sacra". Segunda série. Lisboa, 6, 1994
Igreja e sociedade portuguesa do Liberalismo à República.In "Didaskalia". Lisboa, 24, 1994
Nas origens do apostolado contemporâneo em Portugal, A "Sociedade Católica" (1843-1853). Braga, 1993
Cristandade e secularidade. In "A salvação em Jesus Cristo". Lisboa, Rei dos Livros, 1993
Fé, razão e conhecimento de Deus no Vaticano I e no Vaticano II. In "Communio". Lisboa, 10:6, 1993
A Igreja e o Liberalismo. Um desafio e uma primeira resposta. In "Communio". Lisboa, 9:6, 1992
Laicização da sociedade e afirmação do laicado em Portugal (1820-1840). In "Lusitania Sacra", Segunda série. Lisboa, 3, 1991
O Congresso católico do Porto (1871-1872) e a emergência do laicado em Portugal. In "Lusitania Sacra", Segunda série. Lisboa, 1, 1989
Cardeal Cerejeira: Pensamento, coração e relação com o poder. In "Novellae Olivarum". Nova série. Lisboa, 15, 1989
Clericalismo e anticlericalismo na cultura portuguesa. In "Reflexão Cristã". Lisboa, 53, 1987
Reflexões sobre os 50 anos da Acção Católica Portuguesa. In "Novellae Olivarum". Nova série. Lisboa, 8, 1984
Católicos, Estado e Sociedade no Portugal oitocentista (congressos católicos de 1891 e 1895). In "Communio". Lisboa, 1:3, 1984
Notas de cultura portuguesa. Do teatro sagrado ao teatro profano. In "Novellae Olivarum". Nova série. Lisboa, 6-7, 1983
Notas de cultura portuguesa. Os papas e Portugal. In "Novellae Olivarum". Nova série. Lisboa, 2-3, 1983
Monsenhor Pereira dos Reis. (Em colaboração). Lisboa, 1979
A Igreja no tempo. História breve da Igreja Católica. Lisboa, 1978

 

Textos, entrevistas e artigos sobre D. Manuel Clemente publicados no site da Pastoral da Cultura

Descrer «foi muito importante», diz patriarca de Lisboa
Ação e espiritualidade de D. Manuel Clemente fundam-se em Cristo – «Dá-me ideia que já não vejo mais nada senão a pessoa de Jesus e as outras pessoas todas nele» – e no Evangelho, interpelador: «O que a palavra de Deus poderia sugerir no abstrato é no concreto que a apanho. O verbo de Deus encarnado, para mim, é que é a religião».

Leitura: Patriarca de Lisboa comenta Evangelhos de Domingo e solenidades
«Este não é um livro de homilias, porque a homilia é um género literário que se inscreve na própria liturgia. São meditações, mas meditações que partem profundamente do Evangelho de Domingo, partem explicitamente, e são um convívio com a própria palavra», sublinhou o padre José Tolentino Mendonça na sessão de apresentação.

Pastoral da Cultura retoma encontros "Eis o Homem" com patriarca de Lisboa e sínodo sobre a família
O Secretariado da Pastoral da Cultura da diocese do Porto retoma a 11 de dezembro os encontros "Eis o Homem", com a participação do patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, e do jornalista José Manuel Fernandes.

Editoras Paulus e Paulinas lançam livros sobre D. Manuel Clemente, novo patriarca de Lisboa
"D. Manuel Clemente - Patriarca de Lisboa", da Paulus, apresenta uma biografia do prelado «e um elenco dos principais desafios que o aguardam na condução do patriarcado, bem como uma seleção de pensamentos sobre os temas mais pertinentes para a Igreja e a sociedade atual». As Paulinas lançam "Uma casa aberta a todos - O novo patriarca fala dos grandes temas"", composto por entrevistas a D. Manuel Clemente conduzidas por Paulo Rocha, diretor da Agência Ecclesia.

«Beija a tua cruz e ela há de florir»: o Pentecostes à luz do novo patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente
Contrariamente ao que se diga, todos somos insubstituíveis, e o que cada um não fizer, por fazer ficará, nesse modo e ocasião. Deixai-me pedir-vos, caríssimos crismandos: - Acolhei o que o Espírito vos pedir, no fundo da consciência e na interpelação da Igreja. Tem alguma razão o nosso povo, quando diz que “cada qual é para o que nasce”; mais razão há decerto para que o Espírito requeira de cada um de vós a coincidência da vida com uma vocação específica. Na vida laical ou na vida religiosa, no sacerdócio ou na missão, para cada um de vós o Espírito tem um segredo e um apelo. Escutai-O hoje, que para tal o recebereis de seguida. Aí encontrareis a felicidade, que só reside na vontade de Deus. Aí a encontrarão tantos outros, que esperam o vosso sim. O Espírito em vós, para a salvação do mundo. Nada menos do que isso e precisamente assim.

Saudação ao papa Bento XVI no encontro com o mundo da cultura no Centro Cultural de Belém, em Lisboa
Creio falar em nome de todos os que aqui estamos, ao dizer-Vos, Santo Padre, que compartilhamos a Vossa preocupação constante em não reduzir a consistência cultural das nossas análises e actuações, como cidadãos responsáveis, lúcidos e intervenientes nos diversos sectores da sociedade nacional e internacional.

Portugal e os portugueses
É habitual insistir-se na nossa infinita capacidade de adaptação, seja aonde for. Pergunto-me se não se trata antes do contrário. Se não devíamos falar até da impossibilidade de deixarmos de ser quem somos, tal a densidade interior que acumulámos. Não temos de nos adaptar por aí além, porque já temos dentro e acumulados os infinitos aléns que nos formaram. Aqui, neste recanto ocidental do Continente, sedimentaram-se, milénio após milénio, os variados povos que, do Norte de África ou do Leste da Europa, tiveram forçosamente de parar numa praia que só no século XV se transformou em cais de embarque. Aqui chegaram outros, que depois vieram e continuam a vir das mais diversas procedências. Tanta gente em tão pouco espaço só pode espraiar-se numa geografia universal. Assim foi e assim é. Por isso também, se é verdade que muitos outros povos manifestam capacidade variável de adaptação fora da sua terra, nós manifestamos algo de endógeno que já não é propriamente adaptação, antes conaturalidade.

«Fraternidade» segundo D. Manuel Clemente
A fraternidade requer motivação e pedagogia. Aprende-se a ser fraterno e quanto mais cedo melhor: é bom nascermos em família e entre irmãos, é ótimo alargar a convivência aos que, não sendo de sangue, fazem desse sentimento a substância duma política de todos para todos. Daí as outras comunidades, das igrejas às escolas, etc. Fraternidade requer presença mútua, rosto próprio e escuta atenta. Nunca abstrações facilmente totalitárias nem individualizações que se ficassem por algarismos sem soma.

O tempo pede uma Nova Evangelização
Nós somos realmente muito antigos e nada nos predestinava a ser fosse o que fosse. Nem terra, nem gente, nem língua, nem coisa alguma que nos recortasse de outros. Por isso, o que temos de original é sermos realmente muito antigos, sem razões de origem para o sermos. Dito doutro modo, é perdurarmos. Quase contra tudo, quase contra todos e quase contra nós, por vezes. Se há "enigma português", é este mesmo. Basta e sobra, por ser quase inédito. Também para nos alimentar a esperança, que é o que sobeja dos impossíveis passados, para os impossíveis futuros

Reinventar a Igualdade
Na perspectiva cristã, não tardou muito a ser compreendida a primeira e última radicação da igualdade, ou seja, o critério divino que se revelou na palavra e na atitude de Cristo. Por isto mesmo as comunidades cristãs, cuja substância consiste na herança e perpetuação dessas mesmas palavra e atitude, devem oferecer à sociedade em geral o ensaio credível de tal convicção. Intervenção de D. Manuel Clemente na 6.ª Jornada da Pastoral da Cultura.

O "meu" Concílio, 50 anos depois
Tudo parecia ir bem, como fundamentalmente foi, apesar de muitos e alguns graves “acidentes de percurso”, que melhor se chamariam incursões de fora no percurso eclesial autêntico. Aconteceu – naturalmente aconteceu – que a relação entre a Igreja e o mundo consentiu, em alguns casos e alguns tempos, fortíssimas inclusões do mundo na Igreja, que puderam pôr em causa a identidade desta, da sua ação, do seu sacerdócio, da sua tradição essencial. Aconteceu realmente, dando ao pontificado de Paulo VI (1963-1978) uma nota dramática que por vezes lhe transparecia nos olhos e nas palavras, apesar de tudo serenas e geralmente esperançosas. Para mim, como para tantos outros, a aplicação do Concílio foi sobretudo – e continua a ser – um constante desafio de discernimento e identificação cristã e eclesial, para catolicamente servir o mundo.

É preciso reeequacionar a presença dos cristãos na cultura
"A relação entre Igreja e Cultura não se faz de maneira formal, por decreto, mas porque há homens e mulheres profundamente motivados pelo Evangelho de Cristo que depois reflectem essa motivação naquilo que criam".

Portugal é um cais onde se chega e donde se parte
O bispo do Porto remete tudo à pessoa e às pessoas. O confronto mundial entre culturas diferentes ou o imperioso reconhecimento que temos de fazer de nós próprios, enquanto portugueses. Como sair deste "tempo de escombros"? Entrevista ao "Público".

"Diálogo em tempo de escombros": D. Manuel Clemente e José Manuel Fernandes
O livro “Diálogo em tempo de escombros”, resultante da troca de “e-mails” entre o bispo do Porto, D. Manuel Clemente, e o jornalista José Manuel Fernandes, transformou-se a 11 de Outubro num encontro ao vivo entre os dois protagonistas, realizado na Capela do Rato, em Lisboa.
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«Há uma desmesura que nos explica como portugueses»
Em qualquer acontecimento, há uma certa decepção do que se faz, uma vontade de se fazer e uma nostalgia de uma grandeza que nunca se atingiu. Isto é o português. A saudade – que tem sentimentos congéneres – vem da desmesura. As pessoas têm um ideal para o país que é muito maior do que o seu esqueleto. Entrevista de D. Manuel Clemente ao "Público".

Devoção aos santos deve transformar-se em relação filial com Cristo
O bispo do Porto considera que as “relações de mera necessidade e conveniência” devem “evoluir” para “relações verdadeiramente livres e gratuitas, em que nos amemos apenas “porque sim”, em tudo e mesmo apesar de tudo”. “No que à religião respeita significa passar do habitual apelo a este ou àquele santo, feito advogado desta ou daquela necessidade, para a relação filial que Jesus nos enuncia no “Pai Nosso”.

A nova religiosidade
A questão maior posta pela nova religiosidade à fé cristã reside na alteridade divina, que aquela tende a esbater ou negar. Na busca da identificação de Deus e com Deus, é difícil estar completamente isento da sedução panteísta ou monista. Mas tal sedução manifesta-se muito na nova sensibilidade religiosa: pela consciência individual à universal, pelo conhecimento do cosmos à fusão nele mesmo. Perpassam nela o sentimento e a ideia duma humanidade de evolução e consciência unívocas.

A atmosfera pós-moderna
A evangelização tem de ter em conta os contornos ambíguos da mentalidade corrente. Rovira I Belloso define como “filhas da modernidade e da pós-modernidade” a secularidade tendencialmente secularista, a liberdade sem referência a Deus e o neo-individualismo descomprometido. Mas é neste contexto que urge apresentar Deus como potenciador da realização humana e não como seu limitador.

O caso português
A mentalidade recente trouxe outros desafios ao Catolicismo, talvez mais por distração do que por contraposição. O propósito e o sentimento tornaram-se mais imediatos e inconsistentes, reagindo negativamente a propostas alargadas e objetivas.

É este o tempo
Falo de realidades assim, como podia juntar tantas outras, que assaltam e roubam as pessoas no que têm e no que são, sobretudo porque as apanham sós ou solitárias, mesmo que rodeadas por multidões anónimas.

A herança moderna
Se tentarmos resumir as tensões entre modernidade e evangelização, poderemos enunciá-las assim, tomando-as tanto por reptos como por possibilidades: A questão cultural: Deus à custa do homem (da sua cultura), ou o homem (e a cultura) caminho para Deus?

"Um só propósito: Homilias e Escritos Pastorais em Tempos de Nova Evangelização"
As boas relações alargam a alma e a vida, sabemo-lo bem. Diz o nosso povo, com saber de experiência feito: «Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és.» Tratando-se de Deus, pólo infinito duma relação absoluta, muito mais ainda, podendo dizer-se assim: «Diz-me com Quem andas e dir-te-ei quem serás.» Ou ainda: «Diz-me com Quem andas e dir-te-ei quem ainda não és», sendo este «ainda» um modo de dizer a esperança.

Inutilidade...
As cidades precisam de ser «lugares de “concidadania”, urbanisticamente plasmada e possibilitada, proporcionando encontros em que a “inutilidade” anterior se torne agora da maior “utilidade” futura, para um indispensável e solidário civismo, onde o acontecer nasça do conviver (...). Entre “pessoas” o tempo nunca é dinheiro, pois cada uma delas é o máximo valor. Com a “inutilidade” que finalmente são, ainda que nisso mesmo sejam úteis à personalidade real de nós todos». Texto integral da conferência de D. Manuel Clemente na abertura da Experimentadesign 2011.

A Igreja no tempo: História breve da Igreja Católica
A 13 de Maio de 1981, João Paulo II fora baleado por Ali Agca na praça de São Pedro. Mas encarou a sobrevivência como milagre e confirmação do seu caminho e programa. A 12 e 13 de Maio de 1982, esteve em Fátima, agradecendo a protecção da Virgem, porque «nos desígnios da Providência não há meras coincidências...» A 10 de Outubro seguinte canonizou Maximiliano Maria Kolbe, como mártir de Auschwitz. Bem no espírito conciliar, de uma santidade proposta a todos, canonizaria mais cristãos do que todos os pontífices anteriores.

«Este precioso tesouro...»: Agradecimento de D. Manuel Clemente pelo doutoramento Honoris Causa
Que podemos retirar para agora, nesta segunda, difícil e perplexa década do século XXI, das primitivas alusões à universidade em Portugal, nos longínquos finais do século XIII? Além da evocação, sempre oportuna, no fecundo lastro da memória coletiva, creio que em dois pontos poderemos fixar-nos: no ideal integrador do saber e na conveniência geral da sociedade. Quando se constata a especialização cada vez maior de humanidades e ciências e a deriva tecnicista e utilitária que tantas vezes enviesa estas últimas e eventualmente as primeiras -, urge retomar mais à frente o ideal universalista do saber, onde se aproximem demandas e partilhem conhecimentos, não deixando de fora nada do que à humanidade interesse. As propostas feitas, os cursos oferecidos, as viabilidades possíveis, tudo depende em grandíssima parte do acerto da Universidade com as necessidades e aspirações, evidentes ou pressentidas, do todo social e cultural em que se integra.

Evangelizar de novo
A nova evangelização do mundo vai a par com a da própria Igreja e as comunidades eclesiais são a sua primeira realização. O que se vive alastra, assim os crentes se convertam ao testemunho, à responsabilidade cívica, à solidariedade, ao amor libertador e à esperança; a credibilidade das tomadas de posição dos responsáveis eclesiais depende do que for o testemunho das comunidades cristãs que as asseverem, pois a Igreja não pode anunciar o que não vive.

P. Sena de Freitas: homem de palavra
Em termos gerais, o catolicismo português do final do século XIX e princípios do seguinte é-nos apresentado sob o signo da decadência. E não faltam razões para isso, se olharmos à rarefacção da prática, à deficiente formação dos clérigos, às ambiguidades do enquadramento político-eclesiástico, à pouca incidência nos meios intelectuais, etc. Também não é difícil constatar que, por essas e outras razões, o regime político e o quadro cultural dominante a partir de 1910 não se ligaram positivamente ao catolicismo pátrio e internacional, mas sobretudo ao seu contrário, tentando reduzir ainda mais quer a implantação quer a influência que lhe sobrasse nos espíritos e nos costumes.

Entrega do Prémio "Árvore da Vida - Padre Manuel Antunes" ao P. Luís Archer
A cultura leva por diante a compreensão da vida, no que esta tem de mais palpitante e urgente. Ganha tudo em ser preenchida de saber e de saberes; mas para se responder a si mesma, como existência e autoconsciência inadiáveis. E nada há tão oportuno agora, na nossa fragmentada Europa cultural, como este reencontro de si, para além das sínteses rudimentares do passado remoto ou das desistências recentes de encontrar um sentido, mais preenchido este com o que entretanto soubemos e pudemos, irremediavelmente e, apesar de tudo, promissoramente.

Entrega do Prémio "Árvore da Vida - Padre Manuel Antunes" a Manoel de Oliveira
Em recente entrevista, Manoel de Oliveira diz a dado passo: “Penso mais no que está para além da morte…” (Diário de Notícias, 12 de Dezembro de 2007). Mas não é só agora que tal transparece. No conjunto da sua obra, há tais concentrações ou alargamentos de planos que já induzem um alcance assim. E não temeroso, antes apetecendo o definitivo, total, realizador. Nem com medo da vertigem. Apaixonado juvenil de velocidade, filmou o rio e a sua faina com cenas estonteantes de sugestão e ritmo. Como depois, em história infantil de correria e jogo. Mas, já então, sobressaindo o recorte de cada figura, a densidade de cada personagem. Ressaltava, em suma, a humanidade de cada figurante, ou melhor, cada figura da humanidade transportada.

Entrega do Prémio "Árvore da Vida - Padre Manuel Antunes" a Maria Helena da Rocha Pereira
Verificamos na sociedade portuguesa um maior investimento no ensino tecnológico, compreensível na actual conjuntura social e económica. Em termos de mentalidade, isto vai a par com a força da ciência, no sentido que ela foi ganhando na Europa moderna. Tudo muito certo, tudo insuficiente. De facto, nas mais diversas áreas da sociedade e do trabalho, a modernização e os resultados práticos, vistos apenas do ponto de vista científico e técnico, correm o grande risco de perderem a prevalência humanista. Facilmente, a pessoa humana - cada homem e cada mulher em concreto - pode diluir-se na generalidade dos factores de produção e rendimento.

Entrega do Prémio "Árvore da Vida - Padre Manuel Antunes" a Adriano Moreira
Premeia-se este ano a personalidade humana e pública do Professor Adriano Moreira, pela consistência própria e pela oportunidade do tempo. Pela consistência própria, pois não é tão habitual assim verificarmos num longo percurso, entre idades do mundo e mudanças de regime, a continuidade criativa duma linha de pensamento e acção tão juvenilmente definida. Continuidade criativa, como a da terra fecunda que, por isso mesmo, sempre gera.

Entrega do Prémio "Árvore da Vida - Padre Manuel Antunes" à Diocese de Beja
Não é só por conservar no seu escudo as cinco quinas interpretadas como cinco chagas, ou por se ter encontrado fora de si nas velas da cruz de Cristo, que Portugal tem nesse motivo a sua cultura mais argamassada e profunda, pronta a vir surpreendentemente ao de cima, como na última visita papal. Nem é preciso ser muito perspicaz para deparar com alusões cristãs nas mais diversas ocasiões e vicissitudes da vida pessoal ou colectiva, mesmo quando se presumem totalmente laicas e profanas.

Entrega do Prémio "Árvore da Vida - Padre Manuel Antunes" a Eurico Carrapatoso
Não faltam a Carrapatoso os créditos do seu ofício, a formação superior e erudita, o reconhecimento nacional e internacional. Mas tudo isto não chegaria a ser propriamente "cultura". Esta requer densidade humana, correspondência alargada, investigação que avance e faça avançar, que puxe e não descole inteiramente. Onde nos reconheçamos, mesmo que nos descubramos mais além, pela mão dum navegador primeiro, corno aqueles que Sophia poetizava assim: "navegavam com o mapa que faziam". Para avançarmos todos.

À Pastoral da Cultura e ao seu Secretariado Nacional... numa hora que não é de despedida
«Deixando a presidência da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, confiada agora aos muitos méritos do Senhor D. Pio Alves - a quem desejo as maiores felicidades no cargo, bem como aos outros Senhores Bispos e colaboradores em tão importante serviço eclesial -, quero igualmente deixar uma palavra de muita gratidão e apreço aos que comigo trabalharam em dois sucessivos mandatos. (...) Não é certamente uma despedida, mas é imprescindivelmente um grande, grande, obrigado!» Mensagem de D. Manuel Clemente ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura e à Comissão Episcopal.

«Vivemos em autêntica mudança epocal, tanto na civilização como na cultura», diz bispo do Porto
O bispo do Porto, D. Manuel Clemente, afirmou que a sociedade está a viver uma «autêntica mudança epocal, tanto na civilização como na cultura», e considera que a Igreja Católica não compreende nem responde adequadamente às mutações sociais. A transição «não implica obrigatoriamente a perda do adquirido, mas a sua integração geral ou parcial num outro quadro mental e prático, a partir de outros princípios ou de necessidades sobrevindas e arvoradas em princípios», afirmou esta segunda-feira. O prelado frisou que «o catolicismo europeu só terá futuro» se for «evangelizador e missionário», a começar «no próprio bairro, escola ou hospital, quando não na própria casa e família de cada um».

Portugal em 2030 vai precisar de mais sabedoria, estética e ética
O bispo do Porto considera que dentro de duas décadas Portugal vai precisar de aproveitar melhor a sabedoria dos mais velhos, abrir-se ao estrangeiro e educar os mais novos na estética e na ética. Na intervenção que proferiu esta sexta-feira no encontro “Presente no futuro: os portugueses em 2030”, que decorreu até sábado em Lisboa, D. Manuel Clemente sublinhou que o domínio do conhecimento científico não anula a importância da experiência. «Sabedoria é saber de experiência feito, ou experiência decantada, assimilada e transformada em vida. Requer um tempo que não é logo dinheiro, assim como induz um conjunto de qualidades e virtudes que não estão hoje em alta: prudência, ponderação, memória histórica, considerações humanistas em geral», observou.

Fé em Deus precisa de «muito estudo» e «diálogo» para combater bloqueio cultural
A afirmação da fé em Deus confronta-se com um «autêntico bloqueio cultural» proveniente de um «"cientismo" satisfeito ou meramente ignorante». «Considero este bloqueio uma das fronteiras mais difíceis e exigentes da nova evangelização, requerendo da nossa parte [Igreja Católica] muito estudo e vontade de aprender, bem como reforçada disposição para o diálogo e o esclarecimento, com a maior coerência prática também.»

A corrente descrita (ou Portugal e os portugueses, em 2008 e depois)
Um jovem dizia que «o trabalho português era geralmente apreciado “lá fora”, em especial pela capacidade de improvisar e resolver problemas inesperados. Dizia até que a anglofonia não tinha tradução exata para o nosso plebeíssimo “desenrascanço”. Mais uma originalidade lexical, para juntarmos ao que se diz sobre a “saudade”. E é possível que entre estas duas originalidades, tão prática uma, tão poética a outra, vá singrando a barca portuguesa, nas partidas e regressos que hoje somos.

Liberdade: um anseio a conquistar
D. Manuel Clemente defende a necessidade da Igreja, especialmente através do protagonismo laical, se envolver nos debates seculares em que a liberdade se analisa e perspectiva.

Bispo do Porto desafia católicos a participar «em tudo o que aproxime cultura e povos»
D. Manuel Clemente considera que a «convergência cultural está longe de ser feita», pelo que é necessário que as atividades dos secretariados diocesanos da pastoral da cultura «insistam na consciencialização da raiz religiosa da fraternidade, com grande incidência ecuménica».

Portugal é um país que se define pela crise, considera D. Manuel Clemente
O bispo D. Manuel Clemente, responsável pelas relações da Igreja Católica com a cultura e as comunicações sociais, considera que a «crise define o país e a sociedade portuguesa». Em entrevista ao jornal "Correio da Manhã", o responsável pela diocese do Porto fala sobre o papel dos católicos no quadro da situação económica, social e política, reflete sobre o aborto, o uso do preservativo e o casamento entre pessoas do mesmo sexo e defende que a presidência da Conferência Episcopal deve ser ocupada por um prelado que esteja à frente de uma diocese «na zona de Lisboa».

Maria na devoção dos portugueses
A devoção mariana é um facto relevante na piedade pessoal de muitos portugueses. Mas não é a esse título que a vou sublinhar aqui, antes a título colectivo, como devoção nacional que também parece ser. Efectivamente, as grandes horas portuguesas foram várias vezes horas marianas, porque a Maria se referiram, pela intercessão ou no louvor. E se os povos se simbolizam nas realidades que afirmam com mais constância e calor, então o povo português aparece-nos frequentemente como um povo mariano.

Bispo do Porto inaugura "experimentadesign" e pede aos portugueses para acreditarem em Portugal
D. Manuel Clemente considerou que o debate em volta da «utilidade e inutilidade» é da «maior relevância num momento de profunda interrogação acerca do presente», em Portugal e na Europa. «Se estamos mesmo convencidos de que o eixo, o nó, o fulcro de qualquer resolução é a dignidade de cada pessoa humana, revemos as prioridades.»

D. Manuel Clemente distinguido com o Prémio Pessoa
"A sua intervenção cívica tem-se destacado por uma postura humanística de defesa do diálogo e da tolerância, de combate à exclusão e da intervenção social da Igreja. Ao mesmo tempo que leva a cabo a sua missão pastoral, D. Manuel Clemente desenvolve uma intensa actividade cultural de estudo e debate público. Em tempos difíceis como os que vivemos actualmente, D. Manuel Clemente é uma referência ética para a sociedade portuguesa no seu todo", pode ler-se na acta da reunião do júri.

D. Manuel Clemente encara Prémio Pessoa com responsabilidade acrescida
“Agradeço”, “reconhecendo que não sou merecedor de um galardão como este”, “que tomo como um encargo e uma responsabilização”. “Sou um homem da Igreja, também tento ser um homem da cultura e da sociedade no sentido mais construtivo do termo”, referiu D. Manuel Clemente.

Políticos de todos os quadrantes elogiam papel social e cultural de D. Manuel Clemente
Para Paulo Rangel, D. Manuel Clemente é uma "figura nacional de grande relevo", sendo a atribuição do Prémio Pessoa "uma grande notícia também para os cristãos em Portugal". "Esta distinção - acrescentou - valoriza também o papel cultural e intelectual da Igreja Católica em Portugal, que é muito relevante, mas tem sido pouco reconhecido".

Prémio Pessoa distingue «uma das grandes testemunhas do nosso tempo»
“A mim toca-me sempre o modo como a cultura aparece no magistério de D. Manuel Clemente, não como um território de fronteira, que ele visita ocasionalmente, mas como o lugar por excelência onde ele inscreve a tradição cristã e o seu trabalho de pastor”, afirma o director do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

Um louvor à tolerância e à intervenção social
Atento, desperto para o acontecimento cultural português e do mundo, disponível para o diálogo na diversidade, mesmo se não abdica de princípios fundamentais, interveniente, apaixonado pela história, sobre a qual fala com a lucidez e a profundidade de um filósofo, eis o retrato breve de D. Manuel Clemente, bispo do Porto e Prémio Pessoa 2009, tal como é feito pelos que lhe são próximos ou à distância lhe seguem o percurso e o conjunto da obra.

Manuel Clemente, um bispo para a crise
Para começo desta minha tradução de Jerusalém para Atenas, devo confessar que, neste tempo de crise e de urgência, sabe bem encontrar outra respiração. E este livro tem essa outra respiração, uma respiração mais lenta, fora da pressa da crise, fora da pressa da internet, fora dessa pressa que impede o pensamento que vai além da agenda da semana. Neste sentido, é engraçado perceber o seguinte: um livro que está fora do tempo, um livro que não é do aqui e agora tem dentro de si uma boa análise dos problemas do nosso tempo, do aqui e agora.

 

Dados biográficos e publicações: Diocese do Porto, Patriarcado de Lisboa
Edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 04.01.2015 | Atualizado em 19.04.2023

 

 
Imagem D. Manuel Clemente | Foto: António Monteiro/SNPC
A sua voz dentro da Igreja e na sociedade é ouvida com atenção, o seu perfil de intelectual e a abertura para o diálogo valeram-lhe várias distinções muito para além dos muros da Igreja
O patriarca de Lisboa é, por inerência, o magno chanceler da Universidade Católica Portuguesa, instituição a que esteve ligado desde que em meados da década de 70 concluiu o curso de Teologia e se tornou professor da respetiva faculdade em disciplinas ligadas à História da Igreja
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