Átrio dos Gentios

João Lobo Antunes: ética da vida devia ter mais atenção às «convicções de fé»

O neurocirurgião João Lobo Antunes, que esta sexta-feira vai intervir em Guimarães no Átrio dos Gentios, considera que a ética da vida devia dar mais atenção às «convicções de fé», aos «sistemas de valor» e às «interrogações de natureza metafísica».

«A bioética moderna é sem dúvida uma disciplina americana, claramente fundada sobre valores espirituais», frisou o médico português em entrevista publicada a 12 de novembro pelo jornal italiano "Avvenire".

João Lobo Antunes vai refletir com o cardeal italiano Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho da Cultura, sobre "O valor e o sentido da vida de cada ser humano", numa sessão pública que decorre a partir das 21h30 no grande auditório da Universidade do Minho (Azurém), com moderação da jornalista Maria João Avillez.

«Poderia parecer que os formidáveis progressos no âmbito científico e tecnológico tenham relegado para segundo plano os estudos humanísticos, entendidos na sua aceção mais ampla. Mas o verdadeiro objetivo da cultura humanística continua a ser sempre o estudo, a contemplação e investigação sobre o significado do ser humano. O humanismo, em suma, é decisivo para destrinçar as complexidades da nossa época»,

Na entrevista, traduzida para português e publicada no site do "Pátio dos Gentios", o especialista sublinha que os doentes em estado vegetativo têm o direito de «ser tratados com o máximo respeito pela sua dignidade, conceito este bem mais complexo».

«Estou convencido que as regras a seguir na prática deveriam ainda inspirar-se nos ensinamentos de Pio XII nesta matéria», acrescenta.

O especialista afirma que sempre se interessou pelas «questões éticas levantadas pelos triunfos da medicina»: «Gosto de dizer que “a ética é história das minhas inquietudes”, e estas inquietudes nunca se aplacaram».

A entrevista é antecedida de um retrato de João Lobo Antunes, «intelectual conceituado, que nunca deixou de operar e que tem muito a dizer sobre "O valor da vida", tema que o Átrio dos Gentios escolheu para celebrar nos próximos dias na sua versão portuguesa».

Numa «família de talentos», o seu irmão, António Lobo Antunes, «é hoje um dos maiores escritores portugueses, autor de obras como "Cartas da Guerra" e "A morte de Carlos Gardel"».

«Mas também ele, João Lobo Antunes, é uma figura de peso na sociedade lusitana. Nascido em 1944, neurocirurgião de renome internacional (aperfeiçoou sua formação nos Estados Unidos, aonde chegou nos inícios dos anos 70 graças a uma bolsa da prestigiosa Fundação Fulbright Association); atualmente trabalha no Hospital CUF – Infante Santo de Lisboa e assume inúmeras posições institucionais.»

«E também ele, como António, escreve livros com grande sucesso no seu país. Ensaios, mas, romances não: desde "Um modo de ser", de 1996 (ano em que foi agraciado com o Prémio Pessoa) a "Memória de Nova Iorque e outros ensaios", de 2002, até ao "O eco silencioso", de 2009.

O Átrio dos Gentios é uma estrutura da Igreja Católica coordenada pelo Pontifício Conselho da Cultura (Vaticano) que pretende promover o diálogo entre crentes e não crentes.

As sessões públicas da plataforma, que arrancaram em 2011, chegam pela primeira vez a Portugal a 16 e 17 de novembro, com iniciativas em Guimarães e Braga, cidades que em 2012 são capitais europeias da Cultura e da Juventude, respetivamente.

O programa contempla concertos, uma exposição e uma peça de teatro, bem como também conferências e debates com Marcelo Rebelo de Sousa, Ana Luísa Amaral, Valter Hugo Mãe, Isabel Jonet, Fernando Nobre, Assunção Cristas, Vasco Graça Moura, Olga Roriz e Carlos Amaral Dias, entre outras personalidades.

Rui Jorge Martins
© SNPC | 13.11.12