Leitura
A Potência do Meio dos Nós
"Acompanhadas por crianças o colo, em redor, apoiados
[no chão onde aumentam esporas,
os poemas sobem no quarto, chamas desordenadas,
[o tampo
côncavo da mesa traz cada vez mais tinta, uma
[mendicidade
oral obrigatória,
vertiginosa.
Várias vozes batem perto de mais, a garganta arranhada
[divide os
acompanhantes até perderem pequenas ilhas acendidas,
as árvores magoadas sabem tornar-se maiores, espinhosas,
inacessíveis,
Oferecem os frutos só ao ar, enquanto os ramos acústicos
[acordam em pernas usadas em saltos e quando param
estão noutro lado, frios, as folhas
abertas,
se estivessem sozinhas fechavam-se perto da raiz
e esperavam bichos novos, dados para isto, a identificação
[da terra
que está por trás, torcida,
trabalha pelo que vai morrer.
Estou com a cabeça aberta, falem-me do que não está
[aqui."
António Madureira Rodrigues nasceu em Braga, em 1977. Jesuíta, frequentou o curso de escultura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, trabalhou como Técnico de Biblioteca e Documentação. Entrou na Companhia de Jesus em 2006. Frequenta o curso de filosofia na Faculdade de Filosofia de Braga da Universidae Católica. Vive em Braga.
O seu livro «A Potência do Meio dos Nós», de que extraímos o poema, ganhou uma menção honrosa na edição de 2009 do Prémio Daniel Faria.
António Madureira Rodrigues
In A Potência do Meio dos Nós
23.06.09
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