Música
João Coração: Ele é rei deste Verão
O segundo disco de João Coração, «Muda que Muda», é um tratado pop onde cabem Talking Heads, Gainsbourg, palmas, coro desbragados, órgãos kitsch, westerns, luso-honky-tonks e as canções que vão ganhar o Festival da Eurovisão. É o rei do charme tuga, é o disco pop deste Verão. (...)
Mas o que importa são as canções e cinco em nove são extraordinárias – sendo que quatro estão logo a abrir. À “Canção para ficar” segue-se “Passo a passo”, que é Gainsbourg lo-fi: uma guitarra acústica, um órgãozinho ié-ié, aquela vozinha melosa a anunciar que “Vai ser um dia de calor”, e depois o genial truque: piano, órgãos (Moog e Hammond) e uma voz desafinada de menininha coquete e virginal. Aquela voz feminina no refrão é uma lição pop: menos é mais, mal feito é bem feito, no erro é que se acerta. Canção pop perfeita em qualquer parte do mundo civilizado, e até mesmo em sítios suspeitos, como Lisboa.
Canção 3, homónima ao disco: abre com guitarrinha picada, percussão ao trambolhão e uma óptima melodia de harmónica no refrão. Depois há trompetes e coros e uma ela melodia em ascensão. João canta: “A pior raça é de quem vive atrás da coerência / vê na verdade matemática e no céu ciência”. E depois a charanga torna-se por quatro compassos homenagem ao “Roadto Nowhere” dos Talking Heads e – guitarras, harmónica, coros, palmas, grito de “hey”, trompete melosa, tudo e todos numa festa magnífica – canta-se “Vou a caminho de nada, entrem comigo”.
“Abalada Farewell” é o fim de quarteto de ouro, uma balada folk com fendor Rhodes que se alteia num belíssimo refrão debruado a guitarra slide. A partir daqui o disco só volta a este nível magnífico em “Cadeiras ocidentais”, luso-honky-tonk servido por banjo mais órgãos retro e uma grande interpretação de voz que depois abre num estupendo refrão cheio de coros e mudanças de ritmo.
De entre as canções que não são singles óbvios, destaque para “O avesso do começo”, espécie de western para assobio, harmónico e falsete. A “Sofia” falta definição melódica e a muito, muito bela “Istambul ou Budapeste” (que lembra Chico Buarque) tem o defeito de arrancar abaixo do que o resto da canção vem a ser. (...)
Ao leitor pede-se pouca poeira na cabeça. A João Coração peçam-lhe tudo.
Cadeiras ocidentais
João Bonifácio
In Público (Ípsilon), 03.07.2009
05.07.09
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