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Espiritualidade

Os anjos

Na Tradição cristã, os anjos são criaturas: nem deuses, nem semi-deuses; são, como os homens, fruto da iniciativa amorosa de Deus.

O Credo exprime a fé em Deus criador «das coisas visíveis e invisíveis»: os anjos inscrevem-se neste universo de realidades imateriais. Retomando esta afirmação, o 4.º Concílio de Latrão (1215) professa explicitamente a criação dos anjos por Deus. Sendo criaturas, são, contrariamente aos homens, definidos como espíritos puros. Mesmo se os teólogos reflectiram a partir da Bíblia e das definições dogmáticas sobre as subtilezas da natureza angélica – até especular sobre uma eventual identidade sexual... – é difícil, se não impossível, ter uma ideia correcta dos anjos e, mais ainda, falar acertadamente sobre eles. Só a fé revela a sua existência.

O próprio S. Tomás de Aquino, apelidado de “doutor angélico”, dizia no fim da sua vida que ninguém poderia conhecer plenamente quem eles são.

AnjosChagall

 

O que fazem?

Se é difícil definir o que são os anjos, observar a sua actividade ou tomar consciência das suas funções, tal como são descritas na Escritura, permite discernir o que representam para a fé. Como nota Santo Agostinho, “a partir do que ele é, é um espírito, a partir do que ele faz, é um anjo”.

A sua primeira vocação é adorar Deus, como cantam vários salmos: «Louvai-o, todos os seus anjos» (148,2).

Outra das suas atribuições fundamentais descobre-se em função do seu nome, que em grego significa “mensageiros”, tradução do hebraico “malak”; neste sentido, são enviados de Deus aos homens. Nos momentos de provação e sofrimento, eles vêm curar e reconfortar. É um anjo, por exemplo, que dá água a Agar, perseguida no deserto pela sua dona (Génesis 21,17) ou que leva o pão ao profeta Elias, esgotado e desencorajado, ao fugir da rainha Jezabel (1 Reis 19,5-7). O anjo é aquele que guia, guarda e combate. No livro de Daniel, salva os três jovens atirados ao fogo na sequência da ordem do rei Nabucodonosor (3,49).

AnjoIlda David'

Nos Actos dos Apóstolos, intervêm em seu favor, concedendo-lhes um auxílio eficaz. O livro do Apocalipse, por sua vez, evoca a figura de Miguel, enviado a combater o dragão: «o grande Dragão, a Serpente antiga – a que chamam também Diabo e Satanás – o sedutor de toda a humanidade, foi lançado à terra; e com ele, foram lançados também todos os seus anjos» (12,9). Ao longo da História, os anjos anunciam a Salvação. Esta perspectiva está especialmente presente no anúncio, feito a Maria pelo anjo Gabriel, do nascimento do Filho de Deus (Lucas 1,26-38).

 

Anjo ou Deus?

Em várias narrativas bíblicas, aquele que é chamado “Anjo de Iahweh” confunde-se com o próprio Deus, constituindo a sua manifestação visível. Na narração da sarça ardente (Êxodo 3), lê-se que «o Anjo do Senhor» aparece a Moisés (vers. 3). Mas no versículo seguinte, é o próprio Senhor que o chama «do meio da sarça».

AnjoPaula Rego

Assim, a figura do Anjo do Senhor serve de intermediário entre um Deus transcendente e os homens, traduzindo a concepção bíblica segundo a qual «o homem não pode contemplar-me e continuar a viver» (Êxodo 33,20). Muito rara nos acontecimentos que antecedem o exílio na Babilónia, a presença dos anjos tornar-se-á mais frequente depois dessa deportação do povo hebreu. Esta acentuação decorre da reflexão sobre a ausência de Deus, de quem se sublinha, naquele contexto histórico, o carácter inacessível.

 

É preciso crer nos anjos?

No seguimento do testemunho da Escritura e da Tradição, e contra todos os cepticismos, João Paulo II declarou a 9 de Julho de 1986, na sua catequese semanal: «A existência dos seres espirituais que a Sagrada Escritura, habitualmente, chama “anjos”, era negada já ao tempo de Cristo pelos saduceus (cf. Actos dos Apóstolos 23,8). Negam-na também os materialistas e racionalistas de todos os tempos».

AnjoLourdes Castro

No entanto, como observa um teólogo, “quem quiser libertar-se dos anjos, terá que rever radicalmente a própria Escritura, e com ela toda a História da Salvação”.

A existência de seres não corporais, que a Bíblia denomina habitualmente de anjos, é definida como “verdade de fé” pelo Catecismo da Igreja Católica: «A Igreja, na sua profissão de fé, proclama que Deus é o criador de todas as coisas visíveis e invisíveis: de todos os seres espirituais e materiais, isto é, dos anjos e do mundo visível, e em particular do homem»; e ainda: «Os anjos são criaturas puramente espirituais, incorpóreas, invisíveis e imortais, seres pessoais dotados de inteligência e de vontade. Estes, contemplando incessantemente a Deus face a face, glorificam-no, servem-no e são os seus mensageiros no cumprimento da missão de salvação, em prol de todos os homens» (do Compêndio do Catecismo). O documento cita S. Basílio Magno: «Cada fiel tem ao seu lado um anjo como protector e pastor, para o conduzir à vida».

AnjoAntónio Pedro

 

Os anjos, hoje

Há alguns anos que os anjos se tornaram objecto de uma abundante literatura esotérica, dirigida a pessoas, crentes ou não, em busca do sobrenatural. Para o reitor da Abadia do Monte Saint-Michel (França), P. André Fournier, “é preciso tentar cristianizar esta procura, referindo a mensagem de Cristo, que está sempre em primeiro lugar”.

Já S. Paulo avisava os cristãos de Colossos contra o risco de idolatrar as criaturas celestes: «A realidade está em Cristo. Não vos deixeis inferiorizar por quem quer que seja que se deleite com práticas de humildade ou culto dos anjos» (Colossenses 2,17-18). Como recorda o P. Fournier, “os anjos são os mensageiros, e não a origem da mensagem. Eles apenas transmitem a Palavra de Deus”.

 

Antoine Bellier
In La Croix
Trad.: rm
08.10.09

Anjo
Bill Viola

 

 

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