Vemos, ouvimos e lemos
Projeto cultural
Pedras angulares A teologia visual da belezaQuem somosPastoral da Cultura em movimentoImpressão digitalVemos, ouvimos e lemosLigaçõesBreves Arquivo

Bíblia

Quem é este homem?

Naquele tempo, Jesus partiu com os seus discípulos para as povoações de Cesareia de Filipe. No caminho, fez-lhes esta pergunta: «Quem dizem os homens que Eu sou?». Eles responderam: «Uns dizem João Baptista; outros, Elias; e outros, um dos profetas». Jesus então perguntou-lhes: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Pedro tomou a palavra e respondeu: «Tu és o Messias». Ordenou-lhes então severamente que não falassem d’Ele a ninguém. Depois, começou a ensinar-lhes que o Filho do homem tinha de sofrer muito, de ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas; de ser morto e ressuscitar três dias depois. E Jesus dizia-lhes claramente estas coisas. Então, Pedro tomou-O à parte e começou a contestá-l’O. Mas Jesus, voltando-Se e olhando para os discípulos, repreendeu Pedro, dizendo: «Vai-te, Satanás, porque não compreendes as coisas de Deus, mas só as dos homens». E, chamando a multidão com os seus discípulos, disse-lhes: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Na verdade, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a vida, por causa de Mim e do Evangelho, salvá-la-á». (Marcos 8, 27-35 - Leitura do Evangelho de 13.09.2009)

Questão bizarra, e no entanto constante a partir do momento em que nos encontramos com um desconhecido. A resposta por muitas outras perguntas: de onde veio? De que país é? De que meio? Interrogações sobre o lugar, mas também sobre a origem: filha ou filha de quem? O que é que fazem os seus pais? Também surgem perguntas sobre a profissão, a função e, talvez, até a pertença política.

Quando respondemos a estas questões, imaginamos ter os dados essenciais da pessoa. Enganamo-nos: o outro permanece sempre um mistério. Vamos mais longe: eu também sou um mistério para mim mesmo. Penso que me conheço? Ilusão; aliás, os outros não me vêm como eu me vejo, chegando ao ponto de dizer: “não acreditava que fosses capaz disso!”. Para o bem ou para o mal.

Em geral, quando se trata dos outros, contentamo-nos com rótulos: “É um padre”, ouvi eu de quem falava de mim. Por isso, ele vai reagir desta ou daquela maneira, vai dizer isto ou aquilo, já sabemos o que esperar. Os rótulos dão-nos segurança.

É neste contexto que devemos situar a pergunta de Jesus: “Quem dizem os homens que Eu sou?”. A pluralidade das respostas – João Baptista. Elias, um dos profetas – manifesta que os contemporâneos de Jesus não o conseguiam classificar. De Nazaré? Filho de José e de Maria? Carpinteiro? Nenhuma dessas respostas corresponde ao que Ele disse e fez. Reencontramos a famosa questão da identidade que atravessa todos os evangelhos, até à Cruz. Jesus escapa a toda a definição, a toda a “classificação”.

 

“Tu és o Messias”

“E vós, quem dizeis que Eu sou?”, pergunta Jesus aos seus discípulos. É evidente que aqueles que largaram tudo para o seguir não o devem ver da mesma maneira que os outros. No Evangelho de Marcos, a resposta de Pedro, em nome dos seus companheiros, é mais concisa que em Mateus, onde Simão chega ao ponto de declarar Jesus “Filho do Deus vivo” (16,16).

O que representa a palavra “Messias”? À partida, o Messias é aquele que recebeu a unção real ou sacerdotal. Um personagem “consagrado”. No tempo de Jesus, esperava-se a vinda de um “filho de David”, isto é, herdeiro da realeza davídica, que entregaria a autonomia aos israelitas. Um libertador, portanto, mas também um soberano.

Nos Actos dos Apóstolos (1,6), depois da crucificação e da ressurreição, os futuros apóstolos perguntam a Jesus se seria naqueles tempos que ele iria restabelecer o Reino em favor de Israel. Uma incompreensão, dado que Jesus tinha falado, durante quarenta dias, do “Reino de Deus”, expressão cujo sentido os discípulos ainda não tinham entendido.

Por outro lado, começou aos poucos a conceber-se o Messias como um personagem sobrenatural. Com efeito, o “Filho de David” tinha herdado, ao longo do tempo, traços do “Filho do homem”, nome que Jesus dá a si próprio com frequência, e em particular no versículo 31da nossa leitura.

Esta expressão está presente noutros textos bíblicos, mas é preciso recordar especialmente a passagem de Daniel 7,13-14: depois da destruição de animais monstruosos que provocaram catástrofes – pensemos nos diversos impérios que oprimiram Israel, mas também nas “potências e dominações” mencionadas por Paulo – aparece nas nuvens do céu “como um Filho de homem”, a quem “foram dadas as soberanias, a glória e a realeza”. Todas estas palavras têm significado.

 

A verdade do Filho do homem

Já referi a questão do mistério, que cada um de nós é. O mistério de Jesus contém e ultrapassa todos os mistérios que somos. Ao mesmo tempo, revela claramente o sentido último das nossas vidas.

Mal Pedro declarou que Jesus é o “Messias” (“Cristo”, na nossa linguagem herdada do grego), ele anuncia os seus sofrimentos, a sua morte, a sua ressurreição.

A resposta à pergunta “de onde vem Jesus” (Nazaré, a sua família, a sua profissão) não chega para revelar “quem é ele”. É o “onde vai” que dirá a última palavra, última palavra que permanecerá um mistério. Última palavra também sobre Deus: percebemos que não apenas ele dá a vida, mas também que ele dá a sua vida para nos fazer viver. Ser “Filho”, “imagem de Deus invisível”, Messias, Filho do homem, é tudo isso.

“Cristo” significa rei, mas o seu poder real não se exerce sobre nós, que somos com ele “herdeiros do Reino” (cf. Romanos 8,17, entre outros), mas sobre a morte e tudo o que nos é contrário, tudo o que nos inclina para a queda. No fundo, é a nossa criação à imagem e semelhança de Deus, isto é, a nossa gestação como filhos, que prossegue e atravessa os obstáculos destruidores.

Jesus compara o que se vai passar na Cruz às dores de parto. Quando elas terminam, a há a vida.

Jesus não quer que os seus discípulos repitam que ele é o Messias, porque o povo ainda não é capaz de compreender essas coisas. É preciso que venha o Espírito.

 

P. Marcel Domergue, SJ
In Croire
© SNPC (trad.) | 09.09.09

Jesus

































































































 

Ligações e contactos

 

Artigos relacionados

 

 

Página anteriorTopo da página

 


 

Subscreva

 


 

Mais artigos

Imagem/Vídeo
Mais vistos

 

Secções do site


 

Procurar e encontrar


 

 

Página anteriorTopo da página