Férias, pausa
Ousar um retiro
Ao longo de 25 anos, a jornalista Anne Ducrocq tem visitado e descobero mosteiros de todas as sensibilidades e religiões. Nos seus dias de retiro, encontra o silêncio e experimenta a vertigem de um mergulho interior, favorecido pelo contacto com a comunidade monacal.
Em Maio deste ano, publicou o Guide spirituel des lieux de retraites dans toutes les traditions (Guia espiritual dos lugares de retiro em todas as tradições), edição Albin Michel. Excertos de uma entrevista ao «Croire».
Conhece bem os diferentes mosteiros. Como é que se escolhe um retiro espiritual?
Há muitas propostas, de diferentes espiritualidades. É preciso escolher o lugar em função daquilo que a pessoa está a viver num determinado momento da sua existência. Alguns critérios ajudam na escolha: se tenho medo do silêncio, procurarei ter um espaço de palavra... Ao mesmo tempo, é preciso simplesmente confiar.
Quem são as pessoas que fazem retiro?
Não é só a oração que as atrai. Muitas são confrontadas com dificuldades pessoais, conjugais, profissionais, e não podem mais, não sabem para onde ir. Encontrei também estudantes em revisão de vida, pessoas que têm de tomar uma decisão... Têm necessidade de se encontrar com elas mesmas, de se distanciar. Creio que, em primeiro lugar, procuram o silêncio em, na esperança de que a paz desses lugares seja contagiosa.
O que é que se passa para quem faz retiro?
As nossas vidas são dispersas, temos o coração agitado pelas preocupações. A pessoa que faz retiro procura unificar a sua existência, ajudada pela estruturação do dia monacal. E depois há a experiência do aborrecimento. Ao princípio, passa-se o tempo com um livro, seguem-se todas as orações... Mas é preciso ultrapassar esse muro do aborrecimento para que aconteça alguma coisa. É preciso aceitar estar só, no silêncio, sem nada para fazer.
Como vive esses tempos de retiro?
A primeira regra do jogo é aceitar deixar-me ir. Basta deixar-me levar, pelas orações, mas também pelo descanso, pela caminhada, pelos pequenos trabalhos... Durante a estadia num mosteiro, descasquei feijões verdes para quarenta pessoas. Havia nessa actividade simples uma verdadeira dimensão de oração, uma respiração mais ampla. Penso também na oração da madrugada: levantar-se, estar lá, presente, com a comunidade monacal, enquanto toda a gente está a dormir. No coração da noite há uma grande densidade de silêncio. Asseguro-lhe que vai compreender algumas coisas sobre as trevas....
O silêncio é uma experiência de depuração...
É preciso deixar as seguranças do telefone, do e-mail, dos próximos... Durante um tempo, deixar todos esses contactos que tranquilizam, para estar próximo de si mesmo. É uma vertigem. O silêncio é uma experiência de escuta. Escuta de si, de uma palavra. No silêncio, despertam-se as águas profundas da nossa existência. Não é de todo um repouso! No primeiro dia, descobre-se o silêncio, a liturgia, os horários. Quando o exotismo deixa de ser novidade, podem surgir momentos de revolta, de resistência, de medo. Um retiro é uma aventura interior, uma experiência extrema que é preciso ousar. Seria uma pena não se arriscar.
Entrevista de Christophe Henning
In Croire
© SNPC |
09.08.09