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Carta pela Compaixão abraça religiões

Representantes de várias confissões religiosas e não-crentes reuniram-se a 15 de Novembro em Lisboa para um encontro sobre a «Compaixão», no âmbito da iniciativa internacional Charter for Compassion.

A ideia da Semana da Compaixão, na qual se integrou o encontro do último domingo, foi lançada em Fevereiro do ano passado por Karen Armstrong, uma ex-freira católica que se tem dedicado ao estudo das religiões monoteístas.

Na Mesquita Central de Lisboa estiveram presentes representantes da Comunidade Judaica, Igreja Católica e da Comunidade Islâmica em Portugal, bem como Mário Soares, Presidente da Comissão da Liberdade Religiosa.

O representante católico foi o P. Peter Stilwell, director da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa e e do Departamento das relações ecuménicas e do diálogo inter-religioso no Patriarcado de Lisboa.

Ao longo da semana de 12 a 19 de Novembro, vão ser feitas homilias, sermões e alocuções sobre a compaixão nos templos das várias confissões religiosas, desde católicos a hindus, passando por budistas, muçulmanos, baha'is, ismaelitas e judeus, disse à Lusa o responsável que chefia a comissão portuguesa para a Carta da Compaixão, Abdool Vakil.

 

Intervenção do P. Peter Stilwell

A carta, cujo lançamento hoje nos reúne aqui, elege como referência a “compaixão”, emoção valorizada pelo menos nas principais tradições religiosas. É, como vários já testemunharam, uma palavra que não faz justiça a outras, mais antigas, cujo sentido se apagou ou distorceu com o tempo. Refiro-me à «hesed» da tradição bíblica, o "amor das entranhas" que os primeiros cristãos de língua grega traduziram por ágape e os de língua latina verteram no neologismo caritas, cuja raiz é a «charis», ou graça, pedida de empréstimo aos gregos. Em suma, um amor marcado pela gratuidade, que encontra paralelos e convergências noutras tradições antigas.

Trata-se de uma emoção delicada: um transbordar do coração perante as alegrias e sofrimentos dos outros. É um movimento profundo que arranca das raízes do nosso ser, antecedendo a reflexão da razão e a inclinação da vontade. Mais do que uma atracção "química" pelo outro, ou sequer um sentimento psicológico de afinidade, é uma virtude ou força espiritual. Os cristãos lêem-na como brotando do próprio Deus, e por isso lhe chamam "virtude teologal".

Nesse sentido, antes de ser acção ela é atenção, vigilância. Dir-se-ia que é a condição do outro que abre em nós a fonte da nossa própria humanidade. Por isso, a compaixão se manifesta como resposta espontânea à grandeza ou miséria do outro: um excesso que transborda do coração de qualquer homem ou mulher, independentemente da sua filiação ideológica e religiosa, ou ausência dela, porque a todas antecede.

Contudo, na sua delicadeza, a compaixão arrisca-se a ser perdida de vista por entre a multiplicidade de sentimentos e emoções que parecem mais relevantes para a vida quotidiana. Pode parecer uma emoção débil, sintoma de fraqueza perante a crueldade do real. Identificá-la e sublinhar a sua grandeza aos olhos do mundo, como o pretende fazer a rede que se tece em torno da Carta pela Compaixão, é por isso da maior importância.
O cuidado atento pelo outro, próprio da compaixão, questiona o valor absoluto por vezes atribuído à afirmação da identidade e aos nossos direitos. Nisso se esconde um fermento de humanidade e mesmo uma proposta civilizacional.

 

Carta pela Compaixão

O princípio da compaixão é o cerne de todas as tradições religiosas, éticas e espirituais, nos conclamando sempre a tratar todos os outros da mesma maneira como gostaríamos de ser tratados. A compaixão impele-nos a trabalhar incessantemente com o intuito de aliviarmos o sofrimento do nosso próximo, o que inclui todas as criaturas, de nos destronarmos do centro do nosso mundo e, no lugar, colocar os outros, e de honrarmos a santidade inviolável de todo ser humano, tratando todas as pessoas, sem excepção, com absoluta justiça, equidade e respeito.

É necessário também, tanto na vida pública como na vida privada, abstermo-nos, de forma consistente e empática, de infligir dor. Agir ou falar de maneira violenta devido a maldade, chauvinismo ou interesse próprio a fim de depauperar, explorar ou negar direitos básicos a alguém e incitar o ódio ao denegrir os outros - mesmo os nossos inimigos - é uma negação da nossa humanidade em comum. Reconhecemos que falhamos na tentativa de viver de forma compassiva e que alguns de nós até mesmo aumentaram a soma da miséria humana em nome da religião.

Portanto, conclamamos todos os homens e mulheres a restaurar a compaixão ao centro da moralidade e da religião, a retornar ao antigo princípio de que é ilegítima qualquer interpretação das escrituras que gere ódio, violência ou desprezo, a garantir que os jovens recebam informações exactas e respeitosas a respeito de outras tradições, religiões e culturas, a incentivar uma apreciação positiva da diversidade religiosa e cultural e a cultivar uma empatia bem informada pelo sofrimento de todos os seres humanos - mesmo daqueles considerados inimigos

É urgente que façamos da compaixão uma força clara, luminosa e dinâmica no nosso mundo polarizado. Com raízes numa determinação de princípios de transcender o egoísmo, a compaixão pode quebrar barreiras políticas, dogmáticas, ideológicas e religiosas. Nascida da nossa profunda interdependência, a compaixão é essencial para os relacionamentos humanos e para uma humanidade realizada. É o caminho para a iluminação e é indispensável para a criação de uma economia justa e de uma comunidade global pacífica.

 

© SNPC | 16.11.09

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Foto Placa com a Carta da Compaixão













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