Testemunho
Natal: Longe de casa, próximo do Mistério
Não me lembro, desde que sou padre, de ter passado um Natal em casa. Exactamente porque as celebrações não me deixavam margem para fazer mil e quinhentos quilómetros na noite da Consoada.
Talvez por isso deixei cair algum romantismo e fiquei com mais tempo para o Mistério. A noite da Consoada nas diferentes comunidades sacerdotais em que tenho vivido, sempre foi um pouco apressada porque tinha e tenho de estar leve e fresco para a celebração nocturna. E, quando se juntavam ou juntam amigos, sempre me senti um pouco alheio às ementas natalícias e àquele ar sisudo de Consoada imperdível como se fosse a celebração central da vinda de Jesus. Nada disto revela ou esconde virtude. Foi e é assim e não me sinto nada mal. (...)
[O Natal é um tempo de] festas e de grandes solidões pelo acento exagerado nas farturas de afecto que a quadra sugere. E não esqueço a impressão de efémero que sempre me deixa. Papéis, plásticos, embrulhos, fitas, cartões, sorrisos profissionais, tudo se evapora rápido de mais com a ilusão de um dever cumprido que às vezes é um pesadelo. Mas sei que não podemos trocar isto pelo nada ou permitir que o Natal desapareça ou se esvazie do seu significado.
Nunca recusei o tom de festa, simplicidade, alegria quase infantil que directa ou indirectamente nos toca. Mesmo que não explicite muitos símbolos cristãos, o Natal acaba por lembrar o melhor que há em nós e isso não pode estar distante do Mistério da Encarnação e da lição sublime do presépio. E a sociedade parece que se presta a aceitar valores e baixar armas de discursos agressivos e discussões inúteis. Jornais e telejornais têm pena de nessa noite dar notícias de guerras, bombas e tragédias. No fundo, há uma nostalgia que nos invade a partir do Mistério da Encarnação. Esse, sim, responde diante de Deus e dos homens à sede profunda de salvação que nunca deixa de nos inquietar.
Cón. António Rego
Director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais
In Correio da Manhã
25.12.09

Missa de Natal na Igreja da
Sagrada Família, Srinagar, Índia
25.12.2009
Foto: Getty Images





Ó meu Menino | VÍDEO |
Santo Estêvão: o primeiro mártir cristão | IMAGENS |
Representações do Natal na arte | IMAGENS |
Natal: Longe de casa, próximo do Mistério
Natal no mundo | IMAGENS |
Breves:
Presépios das Aldeias do Algarve
Duas exposições sobre os presépios no património de Estremoz



