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Religiosidade contemporânea

Natal: Reencontro anual com Cristo e a Igreja

Para Bernard, um alto diplomata parisiense de 55 anos, o Natal representa muito mais do que uma vã orgia de consumo ou um simples pretexto festivo para se sentar à mesa com os seus próximos: “Tenho o hábito de assistir à missa da meia-noite na paróquia de Saint-Suplice, em Paris. Esse lugar fascina-me. Espero sobretudo o instante mágico em que a igreja se esvazia e onde posso partilhar uma chávena de chocolate quente com alguns paroquianos, na intimidade. É uma maneira de prolongar a missa, de não sair depressa demais desta atmosfera”.

Como muitos outros, Bernard está longe de ser um praticante assíduo. Mas o Natal permanece para ele um alicerce indispensável, o último laço, episódico, com a fé da sua infância. “Preciso de fazer o balanço do ano findo, de me recolher, de pensar mais intensamente nos outros”, diz este fiel de uma noite, para quem viver o Natal desta maneira não tem nada de ritual individualista: “Ao partilhar um momento forte no meio de uma multidão, de maneira anónima, sinto-me pertencer a uma grande família”.

FotoReuters

Por outras razões que não a “falta de tempo” de Bernard, Dominique, 25 anos, jornalista, distanciou-se da religião “culpabilizante” vivida na infância. “Hoje, prefiro cultivar a minha relação com Deus estando atento aos outros, mais do que ficar de consciência tranquila indo à missa”, resume. “Tive sempre fé”, assegura. O Natal permanece para ele um “encontro anual” com o Senhor”, a que não pode não faltar.

 

Um tempo de comunhão

Ela diz esperar com impaciência “este tempo de comunhão”, onde as “pessoas desconhecidas se reencontram à volta de um mesmo desejo: cantar e falar a Deus a uma só voz”. Para alguns, a Missa do Galo é também a ocasião – raríssima – de aderir a uma tradição que tem o mérito de juntar a família: “Com os meus três irmãos e irmãs e os meus familiares, assistimos à celebração para termos um momento à parte, para estarmos unidos, mesmo se ela é demasiadamente longa e quando, por vezes, teríamos preferido ficar ao calor, no sofá”, declara Chloé, 25 anos.

FotoReuters

Deborah, quinquagenária de origem irlandesa admite: “Se perdi o fervor da minha infância, é sobretudo por preguiça...”. “As celebrações realizam-se por vezes muito longe de casa, e esse é o único dia em que o meu marido pode dormir”. Mas para Deborah, assim como Chloé, Dominique e Bernard, o Natal é sagrado!

“O ano passado não pudemos assistir à missa da meia-noite por causa de uma tempestade de neve. Lamentei-o. Para mim, não foi um ‘verdadeiro’ Natal, faltou-lhe alguma coisa”. Esta “alguma coisa”, cada um perspectiva-a à sua maneira, de acordo com a sua cultura e a sua história. Muitos vêem na celebração natalícia um dos últimos laços susceptíveis de “juntar as gerações”, como Élisabeth, de 53 anos. “Geralmente – diz ela – as minhas três filhas acompanham-me à missa de Natal, com os avós. Afastadas da Igreja, partilham no entanto os valores universais do amor, da atenção aos outros. O Natal faz parte de toda a construção humana.”

FotoCorbis

 

Recordações da infância

Apesar do decréscimo da prática religiosa dos franceses, eles continuam ligados ao ritual da Natividade. Simples tradição cultural ou desejo inconfessado de renovar uma fé adormecida? “Este enraizamento tem sem dúvida uma raiz antropológica subjacente: as pessoas procuram encontrar-se no momento do ano em que as noites são mais escuras no hemisfério Norte”, refere o P. Nicolas, investigador associado à Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais. O Natal “mobiliza as nossas recordações de infância” e permite voltar a tecer o fio da “memória familiar”, acrescenta.

Quanto à expectativa espiritual, ela é inegável, mas “não se pode dizer qual é a sua natureza”, sublinha o investigador. Uma certeza: todos, crentes ou não, têm necessidade de “assinalar os grandes determinantes da vida humana: o amor, o nascimento, a morte...”. O Natal, à semelhança da celebração dos casamentos, funerais ou baptismos, permanece um marco privilegiado, mesmo entre os não praticantes.

Foto

Para a Igreja, o desafio consiste em acolher da melhor maneira possível estes fiéis de uma noite, com as suas expectativas difusas, mas reais. A maior parte das paróquias reforça o número e a diversidade das celebrações, aprimorando a liturgia e a beleza dos cânticos, a fim de os tornar vibrantes e acessíveis. Por vezes propõem-se encontros à saída das missas, com bebidas quentes e bolinhos, com ao objectivo de estimular o convívio. Mas “não basta oferecer um chocolate quente para dizer que há acolhimento”, observa o P. Nicolas.

“Sei que posso dar a impressão de viver a minha fé ‘à la carte’”, reconhece Dominique, que evoca a imagem de um menu de restaurante de onde se escolhe a configuração religiosa mais conveniente. “Cada vez que saio da missa de Natal, interrogo-me. Não teria muito mais a ganhar se participasse mais vezes? É como voltar de uma viagem inesquecível: o quotidiano impõe-se, mesmo se se promete repetir a aventura...”

 

Anna Latron, François-Xavier Maigre, Céline Hoyeau
In La Croix
Trad.: rm
© SNPC (trad.) | 27.12.09

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