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Meditação

O Espírito de Deus está sobre mim

O evangelista Lucas traça com clareza e precisão o percurso da transmissão da Palavra. Mencionemos três momentos. Jesus, judeu da Galileia, que se exprime em aramaico, cuja idade adulta decorre nos anos 20 da nossa era, para terminar entre os anos 30 e 33. Os discípulos, designados como apóstolos, seus companheiros de origem, bem como os pregadores missionários que percorrem as cidades gregas, dirigindo-se a judeus ou não judeus (os gentios), durante os anos 35 a 60. E, em útimo lugar, o momento da redacção dos evangelhos, depois dos anos 60, incluindo as cartas de Paulo escritas a partir do início dos anos 50.

Na primeira fase, Jesus apresenta uma visão nova e inesperada das pessoas e dos acontecimentos; Ele proclama a sua mensagem, realiza actos que curam os doentes e estropiados e escolhe discípulos que ouvem e vêem o que ele diz e faz.

Num segundo tempo, os apóstolos tomam consciência de quem é Jesus, graças ao assombroso acontecimento da ressurreição, e afirmam a sua fé em Jesus. Através desta fé destemida, mais rica e aprofundada, e baseando-se nas suas recordações de tudo o que o seu Mestre disse e fez, proclamam a presença de Jesus ressuscitado. Escusado será dizer que vão encontrar situações e problemas com que Jesus nunca se confrontou, o que impõe uma reformulação atenta à realidade do auditório.

O terceiro momento surge com os autores-redactores dos evangelhos, do ano 65 ao 100. Marcos, companheiro de Pedro. Mateus, Lucas, companheiro de Paulo, e João. A autoridade de cada evangelho repousa na tradição que remontava aos apóstolos.

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A missão de Jesus

O evangelista Lucas nota que Jesus, depois da provação do deserto, habitado por uma paixão que o conduz, regressa à Galileia, impelido pela força do Espírito (cf. Lucas 4,14). Como todo o judeu adulto poderia fazer, recebe com humildade o texto bíblico a ser comentado. É então que a assembleia é arrebatada pelas suas palavras, pois Ele “ensinava como quem tem autoridade e não como os doutores da Lei” (Marcos 1,22). É aqui que a novidade se revela com uma intensidade extrema. É verdade que os profetas, como Isaías e João Baptista, haviam anunciado que o Reino de Deus estava perto, mas nunca até então a proximidade do Reino se tinha manifestado como em Jesus, o enviado que conhece Deus Pai e com o qual vive uma relação singular e única. NEle surge uma realidade radicalmente nova que estilhaça as promessas anteriores. Jesus ilumina totalmente o sentido da sua missão quando diz “cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir” (Lucas 4,21).

Jesus conhece o contexto político e social do seu tempo: os abusos de poder e a dureza dos funcionários romanos, a corrupção. O seu olhar volta-se para os fracos, humilhados e pobres. A sua escolha é definitiva. Ele vai ajudar e estar ao lado dos pequeninos que as autoridades civis, e por vezes até religiosas, olham com presunção e desdém.

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Os desprotegidos, que compreenderam bem o carácter deste mestre da palavra decisiva, querem ouvi-lo. Com o tempo perceberão que Jesus não veio instaurar um reino terrestre (cf. Lucas 24,21), mas que é o libertador de todas as angústias, que oferece um futuro de liberdade e dignidade, que deseja que todo o ser humano faça uma experiência transbordante de intimidade e comunhão com o Pai.

 

O hoje da salvação

A palavra “salvação” pontua o Evangelho de Lucas (2,11; 3,22; 4,21; 5,26; 19,9; 23,43). O episódio de Zaqueu é muito esclarecedor: num determinado momento da sua vida, a graça transforma-o e modifica radicalmente a sua atitude e comportamento (cf. Lucas 19,9). Em qualquer instante, ontem como hoje, Deus encontra pessoalmente os seus filhos. Espera-os, entre outras circunstâncias, na escuta da Palavra: “Oxalá ouvísseis hoje a sua voz”; não endureçais os vossos corações (Salmo 95).

O hoje da salvação estende-se a todas as pessoas de todas as condições, raças e nações, a todas épocas e gerações. Qual é o hoje da salvação para nós, crentes do séc. XXI, que professamos que Jesus ressuscitado é nosso Salvador e Salvador de toda a humanidade?

 

Evangelho de 24.01.2010 (Lucas 1, 1-4; 4 14-21)

Visto que muitos empreenderam compor uma narração dos factos que entre nós se consumaram, como no-los transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares e se tornaram "Servidores da Palavra", resolvi eu também, depois de tudo ter investigado cuidadosamente desde a origem, expô-los a ti por escrito e pela sua ordem, caríssimo Teófilo, a fim de reconheceres a solidez da doutrina em que foste instruído.
Impelido pelo Espírito, Jesus voltou para a Galileia e a sua fama propagou-se por toda a região. Ensinava nas sinagogas e todos o elogiavam.
Veio a Nazaré, onde tinha sido criado. Segundo o seu costume, entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para ler. Entregaram-lhe o livro do profeta Isaías e, desenrolando-o, deparou com a passagem em que está escrito:
«O Espírito do Senhor está sobre mim,
porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres;
enviou-me a proclamar a libertação aos cativos
e, aos cegos, a recuperação da vista;
a mandar em liberdade os oprimidos,
a proclamar um ano favorável da parte do Senhor.»
Depois, enrolou o livro, entregou-o ao responsável e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele.
Começou, então, a dizer-lhes: «Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir.»

 

Julienne Côté
In Interbible
Trad.: rm
© SNPC (trad.) | 23.01.10

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Jesus na sinagoga
James Tissot

 

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