Vemos, ouvimos e lemos
Projeto cultural
Pedras angulares A teologia visual da belezaQuem somosPastoral da Cultura em movimentoImpressão digitalVemos, ouvimos e lemosLigaçõesBrevesAgenda Arquivo

Pintura

Graça Morais retrata "A Procissão"

A romaria da Senhora da Assunção, que se realiza em Vilas Boas (Vila Flor), é a temática da exposição intitulada “A Procissão”, da autoria da pintora Graça Morais. A artista renovou, mais uma vez, parte do seu espólio patente no Centro de Arte Contemporânea de Bragança, optando por um tema que a reporta à infância e com muito significado para o povo transmontano.

A religiosidade foi sempre um tema muito presente na obra de Graça Morais. Depois da “Idade do Ouro”, uma série de 1991 constituída por um conjunto de retratos de meninas figurantes, projectados a partir de fortíssimos tons de azul e laranja, Graça Morais retoma a temática na série “Procissão”, ponto de partida para a exposição que agora se apresenta.

Já por ela concertado sob distintas formas e em abordagens bem menos convencionais ou até subversivas, o referente religioso é agora materializado através do desenho para, numa grande aproximação aos códigos da representação realista, se acercar da devoção popular e das suas festividades. Na verdade, como refere Silvia Chicó, também aqui “a igreja e os seus rituais estão presentes, mas não para serem dessacralizados como na série “O Sagrado e o Profano”, marcados que estiveram por um sobrepujado onirismo ou tão-somente por incursões surrealistas.

Imagem

Orientado para uma quase essencialização de contornos e numa notória economia de meios, quando contrastando com trabalhos onde o recurso à sobreposição de elementos e até à sobreacomulação de tintagens de anteriores soluções compositivas, as personagens de Graça Morais são agora traçadas com imediatismo.

Retratos de meninas e mulheres inscrevem-se a partir de linhas informais, desabrigadas de qualquer referencial ao espaço perspéctico, que quase sempre rareia na sua obra, para reinterpretar, a partir das suas memórias de infância, a identidade religiosa de um povo e a genuína solenidade de que se reveste esta manifestação colectiva.

Recorrendo a suportes como folhas de papel ocre, a artista redefine a espontaneidade e o intenso dramatismo dos pequenos gestos que compõem os momentos preparatórios que sempre precedem a procissão, com particular enfoque sobre o pungente processo de transformação de meninas em anjos.

Romaria da Senhora da Assunção

Simultaneamente, no confronto deste aparente ascetismo em que tantas vezes se inscrevem personagens e acções, captadas primeiramente a partir da fotografia, meio ou registo a partir do qual se fundeia muitas vezes todo o processo compositivo dos seus trabalhos, a artista não deixa contextualizar, com verdade, em obras como “O Cabeço”, o espaço real da celebração.

Centrada em trabalhos de 1999 e 2000, a presente exposição leva-nos ainda, dentro da temática, ao universo privado dos rituais associados ao culto popular, ao integrar nas suas representações as imagens de cera dos ex-votos usadas como pagamento de promessas.

No entanto, a condição da sua prática pictórica não está apenas no registo do pitoresco ou “na preservação da memória, mas na exploração dos imaginários de um povo, que ainda vai mantendo as suas tradições religiosas, um povo que ainda não perdeu o sentido do sagrado, nem da especificidade da sua religião, em que o paganismo se prolonga, em práticas da maior importância social".

A exposição termina a 30 de Março.


Jorge da Costa (in Centro de Arte Contemporânea Graça Morais)
21.02.10

Foto
Graça Morais

 

 

Artigos relacionados

 

 

Página anteriorTopo da página

 


 

Subscreva

 


 

Mais artigos

Leitura
Imagem/Vídeo
Mais vistos

 

Secções do site


 

Procurar e encontrar


 

 

Página anteriorTopo da página