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Arte e cristianismo

Quatro artistas na Capela do Rato

Desde 6.ª feira, a Capela do Rato foi invadida pelo projecto Arte Contemporânea e Sagrado. Tudo partiu de um convite do padre Tolentino Mendonça

Há um artista plástico inspirado pela poesia, o deserto e a música, um compositor a criar uma missa para uma função cívica. E ainda uma artista que trará um Anjo de Berlim e uma outra que talvez crie uma árvore da vida. Há ainda um padre que desafiou todas estas pessoas e uma galerista que os pôs a todos à conversa. Na Capela do Rato, em Lisboa, o espaço religioso converte-se em lugar de instalação artística.

O projecto Arte Contemporânea e Sagrado foi inaugurado no dia 26 de Fevereiro à noite com a instalação da obra Quando o Segundo Sol Chegar, de Rui Moreira. O desenho ficará exposto até princípio de Maio, quando será substituído por uma obra de Gabriela Albergaria. No final do ano, coincidindo com o tempo litúrgico do Advento, será exposto Anjo de Berlim, de Lourdes Castro. E a 23 de Maio, uma missa de Pentecostes, composta por João Madureira, terá a sua estreia na capela, cantada pelos Sete Lágrimas. A iniciativa ficará registada num livro a ser editado no final do ano pela Assírio & Alvim.

A ideia nasceu do padre José Tolentino Mendonça e de um "núcleo curatorial" que a ele se agregou - entre outros, a galerista Vera Cortês. Responsável pela Capela do Rato, o poeta, autor do recente e já premiado O Viajante Sem Sono, quis que a tradição de diálogo daquele espaço religioso se renovasse: "A capela foi um espaço de diálogo entre a fé e a democracia, entre a consciência cristã e a causa da justiça e da paz, entre a liturgia e a busca de novas linguagens celebrativas", diz ao jornal Público.

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O projecto - que poderá continuar, depois deste primeiro conjunto de obras e artistas - "nasce da consciência cada vez mais forte na comunidade eclesial de que a Igreja precisa de se reencontrar com a dimensão da beleza e da estética". Um objectivo a que o próprio Papa Bento XVI se referiu, no recente encontro com artistas, no Vaticano, em Novembro. E ao qual não deixará de referir-se num encontro semelhante que decorrerá no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, a 12 de Maio, durante a próxima visita a Portugal.

"É importante responder ao desafio do Papa, de uma nova estação na indagação da beleza. É algo que queremos levar a sério", diz Tolentino Mendonça.

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As obras irão distribuir-se ao longo dos tempos principais do ano litúrgico: o desenho de Rui Moreira ficará durante a Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa, durante o qual os crentes são desafiados à reflexão sobre os seus limites e incapacidades. A obra de Gabriela Albergaria (que provavelmente será uma Árvore da Vida) acompanha o tempo pós-pascal e o tempo litúrgico comum. A de Lourdes Castro, Anjo de Berlim, acompanha a preparação do Natal - nunca foi, aliás, visto em Portugal.

"Quisemos que o diálogo integrasse a própria experiência comunitária. E também que a intervenção fosse mais profunda, convocando todos os sentidos, como acontece na liturgia: o visual, o sonoro, o sabor, o tacto..."

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Essa relação com uma comunidade concreta é destacada por João Madureira, um dos compositores do projecto Silêncio, apresentado em Novembro pelos Sete Lágrimas e tão bem recebido pela crítica. "O projecto da missa é mais aberto, tenho que o pensar para uma função cívica, algo comunitário, que não se destina em primeiro lugar à fruição individual."

Em relação ao projecto, João Madureira encara como desafiador o facto de se cruzarem diferentes artes: "Interessa-me perceber o que andamos a procurar nas diferentes áreas." E entende que "a dimensão espiritual presente em muita arte contemporânea deve ser acolhida".

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O cruzamento com outras expressões e inspirações está presente também na obra de Rui Moreira: o título, Quando o Segundo Sol Chegar, foi Rui Moreira buscá-lo a uma música da brasileira Cássia Eller. O deserto e as cidades árabes como Fez (Marrocos) e o poema A Máquina de Emaranhar Paisagens, de Herberto Helder, onde o poeta junta excertos dos livros bíblicos do Génesis e Apocalipse, de François Villon, Dante, Camões e uma frase de sua própria autoria, são outras fontes de inspiração.

"O título dá ideia de espera, de esperança", diz o artista plástico. Não sendo crente, Rui Moreira aceitou o convite por vir de alguém como Tolentino Mendonça, que só conhecia pela poesia. "Vê-se pela poesia que, sendo membro da Igreja, é alguém aberto e à procura de qualquer coisa. E sendo alguém que quer dialogar com artistas, isso é fantástico. E eu seria preconceituoso se não aceitasse dialogar."

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Rui Moreira vai buscar o Andrei Rubliov filmado por Tarkovsky, para ver "o drama do pintor e as suas contradições". Mas defende que é necessária liberdade para os artistas poderem criar como entendem. "No Renascimento, havia liberdade e muita genialidade."

Vera Cortês olha para o projecto que está a nascer como algo importante no diálogo entre cristianismo e arte: "Não é por não acreditar em Deus que não se tem uma dimensão espiritual. Existem diferentes maneiras de viver a fé e a espiritualidade e o bom é poder discutir essas coisas."

 

António Marujo
In Público, 27.2.2010
Fotografia: rm
© SNPC | 28.02.10

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Rui Moreira

 

Ligações e contactos
Calçada Bento da Rocha Cabral, 1-B (ao Rato) - Lisboa
2.ª a 6.ª: 10h00 - 17h00 (tocando à porta); Domingos: 12h00 - 14h00 (missa às 12h30)

 

 

 

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